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Segunda-Feira,23 de Junho

Uma incumbência para Reginauro - por Eduardo Lima

Jornal O Norte
Publicado em 06/02/2007 às 11:03.Atualizado em 15/11/2021 às 07:57.

Eduardo Lima *



· Miriam Cardoso contou que lê com regularidade as palavras baldias que me ocorrem. São necessárias, amiga. Escrever é uma necessidade – parece fome, parece vício. Quando as avisto, Miriam, já me dei por avistado; palavras não se deixam surpreender. Palavras se deixam apanhar, fingidas, por nada. Maturam, ficam podres na gente e depois, lírios, brotam. Obrigado por me ler.



Obrigado também a Wilson Silveira Lopes, que me ouviu dizer um dia palavras de esperança. Saiba, amigo, que dela nunca me apartei embora motivos fossem sombra sobre as manhãs. Nalguns dias eu chorei a dor, demasiado, sem lágrima, aquela que acumula e fura, parece arranhar a alma a unha. Nada nesta dor, contudo, é mais do que ganhei. Obrigado por me ler.



Obrigado Fátima Pereira, viúva do amigo, irmão meu de andar de fusca na rota das estrelas. Abrace sem ânsia minha saudade, aquela de coisa boa. Seus olhos brilhantes de alegria e seu sorriso pérola varando as lembranças com a vagareza de trem de ferro, só pra demorar demais, nunca chegar, pois chegar de saudade é fim. Hoje estás no turbilhão, amiga, aprendendo umas maldades necessárias. É preciso muita agonia para servir e se não bastar assim, que seja alçado o dolo - quem serve está a serviço. Admiro sua coragem.



Obrigado também a Georgino Júnior que, em me lendo, unge. Este é da liga mais nobre, um tesouro. Júnior é meu anjo. Júnior é um primor de gente guardada a palmos de humildade. Eu o li muito e dele fui me extraindo, tirando o sumo de asperezas. Júnior me mostrava seus poemas primeiro e os líamos confidentes. Talvez fôssemos Neruda e o carteiro, numa dimensão da qual a minha história incipiente se acanhou. Com ele aprendi o miasma das palavras mais doces. Seu espírito me sobrevoa. Obrigado, amigo.



Obrigado, professor Antônio Augusto Souto, por cujo vislumbre lembro a águia. Há tempos não o vejo e sinto o ardor de seu mimo, sua fleuma, seu modo escorreito de escrever a vida. Que bom que me leia um mestre, galeno da sintaxe e demais academicismos. Obrigado, mestre.



Mestre Itamaury Telles, um prodígio de minha época, daqueles capazes de passar em concurso do Banco do Brasil. Itamaury foi, de então, engalanado, embora suas palavras falem com a simplicidade de um urubu de gravata. Itamaury hoje ostenta fardão, mas sua palavra tem a qualidade do chão, chão varrido, do rente do chão. Escritor de narrativas e não destas bobagens alucinatórias de cronista manco. Faça, Regin, que cheguem públicas estas considerações aos destinatários acima. Você é da mesma laia, congregado, irmão de luminosidade. Você tem a astúcia dos seres que voam. Desculpe pela incumbência mal combinada e... obrigado.



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