Um bom começo

Jornal O Norte
Publicado em 06/03/2008 às 09:15.Atualizado em 15/11/2021 às 07:27.

Bruno Peron Loureiro


Bacharel em Relações Internacionais pela UNESP (Universidade Estadual Paulista).



Ser brasileiro é, para uns, sinônimo de afetividade, criatividade, diversidade e trabalho, e não faltam exemplos de pessoas que fizeram história, embora eu também acredite nos poderes transformadores que emanam daqueles que se sentem irrelevantes, mas que se unem com efeitos poderosos. Para outros, a brasilidade destina-os a sentir a pressão do acúmulo de notícias hediondas de violência divulgadas diariamente, que se banalizam, ou senão expressam descrença de que nos formaremos como um povo mais consciente e se acobertam no clã dos que sentem “vergonha de ser brasileiro”.



Já seria um bom começo se assumíssemos parte da culpa a ponto de reconhecer que muitos não se lembram em quem votou nas últimas eleições ou de que só o fizeram porque era obrigação, ou que outros prefiram trocar seus afazeres diários por algumas horas semanais até descobrir quem será o próximo eliminado do Big Brother Brasil, ou que outros tantos decidam estabelecer suas genealogias e apresentá-las a embaixadas européias para conseguir uma outra cidadania e ter acesso a regalias internacionais que, de outro modo, são negadas aos que possuem o passaporte brasileiro.



Uma notícia veiculada em 17 de fevereiro pela Agência Brasil apontou que até na Guiana Francesa os brasileiros, a maioria provenientes do Amapá, buscam trabalho e melhores condições de vida, porém muitos atravessam ilegalmente a fronteira pelo Rio Oiapoque, desviam dos oficiais de migração e se infiltram na mata indicados por pessoas que planejam e trocam esta prática por dinheiro. Enquanto homens se sujeitam a trabalhos nos garimpos clandestinos, entre outras atividades informais, as mulheres acabam em serviços domésticos para famílias guianenses ou na prostituição pela falta de documentos e urgência de recursos para sobreviver.



Segundo o nosso Ministério das Relações Exteriores, ao redor de 1,1 milhão de brasileiros vivem nos Estados Unidos, dos quais pouco mais de 700 mil são ilegais. Estes são atraídos pelo “sonho americano” e, na melhor das condições, conseguem enviar dinheiro para suas famílias no Brasil. Ainda, parte considerável dos emigrantes buscam oportunidades na Europa e no Japão, mesmo que tenham que se submeter a trabalhos degradantes e que apenas sirvam para pagar o sustento próprio. O discurso é o de que preferem a estabilidade e a segurança de um país desenvolvido ao risco da violência, do desemprego e da instabilidade política.



Numa sociedade como a brasileira, que ultrapassou os 180 milhões de habitantes, não se trata de agarrar qualquer proposta de salvação como se tratasse de um navio em naufrágio, senão de enxergarmos o que cada um pode fazer por mais insignificante que veja seu mundo. Afinal, são dezenas de milhões de almas que compartilham uma cultura invejável e a necessidade de evolução cujos problemas aparecem apenas como estímulo para impulsar-nos ao futuro. Quando se esgotam as forças do país, recompõem-se as pilhas. Nunca se descartam as possibilidades.

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