Waldir de Pinho Veloso
Advogado, professor universitário e escritor
Não sei há quanto tempo, ao fim do que eu escrevo, deixo grafado “um bom abraço”, antes de colocar o meu nome. Por sinal, utilizo o meu nome de forma completa, incluindo o nome (de família, popularmente conhecido como sobrenome) e o prenome (conhecido como nome). A utilização do nome por extenso e de forma longa é porque entendo ser muito difícil divulgar um trabalho literário. Assim, vejo como válido colocar, mesmo em correspondências não formais, o nome com o qual identifico o que escrevo e, eventualmente, sai publicado na imprensa escrita. Assim, há maior facilidade de ligação do correspondente ao escritor.
A despedida, ou arremate, com “um bom abraço”, em meus escritos, é uma forma pessoal. Própria para uma identidade. E venho assim me identificando tanto em cartas formais, passando pelas cartas pessoais até agora nas mensagens eletrônicas, conhecidas como e-mails.
Qualifico o adjetivo – boa esta: qualificar o que tem por fim dar ou especificar qualidade – “bom” para abraço como algo complementar necessariamente honesto. Bom é quase superlativo, insuperável. Somente não o é porque temos o “bom” costume de falar “Bom Jesus”, sendo que Jesus já significa “ungido”, “bom”, “maravilhoso”. E seria um pleonasmo dizer “Bom Jesus”, por estar qualificando de Bom quem já é Bom por Si só. Mas, passou a ser o nome.
Para o meu modesto modo de expressar, “um bom abraço” pode ser entendido como um cumprimento de despedida, um respeitoso jeito de dizer um adeus provisório. Um abraço, para ser bom deve necessariamente ser respeitoso. Aquele que se pode dar em uma criança, em uma pessoa carregada de experiência, em um parente próximo. Também é bom um abraço que pode ser dado em um amigo, em uma amiga. Principalmente, bom é o abraço dado na família mais próxima: cônjuge e filhos. Para ser bom, o cumprimento não pode estar acometido de má-fé, de maus desejos, de esperança de situações libidinosas.
A verdade é que me sinto extremamente orgulhoso ao notar que quem recebe as minhas correspondências notam ser esta uma marca pessoal. Não há dúvidas de que traz enorme satisfação.
Não há muito tempo, Maricélia Lacerda estudava Direito em Montes Claros. Vinha de Pirapora, onde mora, todo dia, para as aulas. Na fase de estágio curricular obrigatório, Maricélia ficava por dois dias em Montes Claros, exatamente para ter oportunidade de frequentar as aulas do estágio, atender aos clientes no Serviço Jurídico da Faculdade e assistir às audiências, no Fórum montes-clarense, como fonte de saber e cumprimento da carga horária.
Por ser da minha turma de estagiários, Maricélia sempre estava em contato por correio eletrônico, tanto comigo quanto com os demais colegas da turma de dez estagiários. E, nos seus e-mails, em algumas vezes, ela terminava despedindo dos colegas estagiários com um texto mais ou menos assim: “E, como diz o Prof. Waldir, um bom abraço”.
No início de 2009, uma causa me fez ter alguns contatos, por mensagem eletrônica, com a Advogada Anne Marie Rohlfs Peres. Depois de algumas informações de como andavam o processo (advogamos em litisconsórcio, o que, para as pessoas fora da área do Direito, significa que ela e eu defendemos partes diversas, mas contra um autor que entrou com a ação contra estas duas partes), ela passou a se despedir de mim com algo como “como diz o Sr., um bom abraço”.
Da parte de Genésio de Carvalho, cheio de criatividade, recebi uma mensagem eletrônica que terminava com “como diz um amigo: um bom abraço”. Após falar com ele sobre o tema, inclusive que inseriria neste local esta informação, ele, dotado de mais criatividade ainda, passou a se despedir de mim assim: “um abraço bem bom”.
Em início de junho também de 2009, recebi alguns e-mails de João Wláder Arruda Rego. Wláder foi meu Colega do Curso de Direito e éramos amigos antes da Faculdade. Fizemos parte do Leo Clube na mesma época e ele era o Presidente. É montes-clarense, filho do Professor Wanderlino Arruda.
Como Wláder mora na cidade de Tulsa (no Estado de Oklahoma, EUA) há 12 anos (após morar em Nova Iorque por 13 anos), com poucas passagens pelo Brasil, parece – mas, somente parece – que ele até se esquece um pouco da Língua original. Antes, a explicação de que o teclado do computador norte-americano não tem cedilha e acentos gráficos e, assim, Wláder tenta evitar a digitação de certas palavras, ou optar por outras formas de expressar. Ao escrever para mim uma mensagem eletrônica, ele grafou (a princípio, achei que ele havia confundido o Português com o Espanhol, mas, depois, percebi que se tratava de um atalho e uma paráfrase): “parafraseando Você, un bueno abrazo!