Ui! Me deu um apagão

Jornal O Norte
30/11/2009 às 09:32.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:18

Júlio César Alves


Acadêmico de Direito

Abro os olhos com dificuldade, apesar de ser 10 horas da manhã. Minha cabeça dói, minha boca está mais seca do que bico de papagaio e tem gosto de corrimão de hospital (público, com recebimentos do SUS atrasados).

Vejo tudo turvo, como se estivesse me recobrando de um estado de transe em um terreiro de macumba. Meu corpo todo dói e posso estudar anatomia seguindo as minhas dores.

Percebo que estou em casa, limpo, mas sem lembrar-me de haver tomado banho, agradavelmente acomodado em minha cama, porém, não tenho a menor ideia de como cheguei, a que horas, onde estive, com quem, o que fiz ou aonde. Certeza, só uma... havia bebido além da conta. E pelo que sei de mim, uma mistura etílica de dar inveja aos coquetéis Molotov dos homens-bomba de Bin Laden.

Blecaute total.

Ressaca brava.

Amnésia alcoólica ampla, total e irrestrita.

Pensei... minha mulher vai me matar, pensando melhor, já me matou dado meu estado de torpor. Teria apenas que descobrir se estava no céu ou no inferno (qualquer lugar desde que tivesse um engov por perto).

Olho de lado e vejo no criado (mudo é claro), um copo duplo d’água gelada e caprichosamente colocado junto a um analgésico.

Talvez um sinal divino?

Aos poucos sinto a visão clareando e ouço minha filha ao meu lado dizendo:

- Papai... o que aconteceu ontem? Você amanheceu deitado na sala todo vomitado, sem camisa e com as calças abertas. Roncando feito um porco do mato no cio...

Em meio as dores que se intensificavam, pensei...

- Tô fupago e maldido! (Para bom entendedor... e mal pago)

Minha mulher havia saído para comprar algo diferente para o almoço, segundo a minha filha.

Me levantei e fui direto para a sala, afim de constatar o estrago da noite anterior e tentar consertar as coisas antes da chegada de minha esposa.

Choquei!  Tô rosa chiclete coração!

A sala já estava totalmente arrumada e melhor, enfeitada com flores, novo tapete, novos vasos, quadros que antes estavam aguardando meu tempo útil para colocá-los nas paredes, tudo em seu devido lugar.

Ante a perplexidade estampada em minha cara de pau, minha filha antecipou-se as minhas dúvidas:

- Você escapou de uma boa, pai! O banho (com todo cuidado e carinho) a água gelada, o analgésico, o almoço especial, a casa arrumada, as flores e tudo mais, só porque você soube dizer a coisa certa na hora certa...

Eu não me lembrava dos acontecidos nos últimos 15 minutos, como iria me lembrar da madrugada de ontem?

- O que eu disse assim de tão fantástico, pra sua mãe me tratar tão bem? Disse não resistindo de tanta curiosidade.

- Na hora em que mamãe levantou pra “te pegar” e te botar prá fora, você começou a gritar várias vezes como um louco...

- “Tira esta mão de mim, que eu sou muito bem casado e amo a minha mulher. Me solta agora”.

Mesmo espantado com minha perspicácia involuntária (de certo modo até teatral), concluí:

- Por isso é que eu sempre digo que é importante dizer a verdade em qualquer situação, que lhe sirva de exemplo minha filha.

Afinal minha ressaca do apagão, foi muito, mas muito melhor que a do Senhor Ministro da Minas e Energia e olha que eu nem precisei inventar nada.

Contornei!

Te cuida Latorraca...

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