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Quinta-Feira,30 de Janeiro

Trem não para na estação

Jornal O Norte
Publicado em 12/05/2010 às 11:08.Atualizado em 15/11/2021 às 06:28.

Alberto Sena


Jornalista



Quem leu “O trem de passageiros” deve ter sentido saudade do trem Montes Claros/Belo Horizonte e vice-versa. Magela Sena é uma dessas pessoas e diz ter muita história para contar. Escritora, ela lançou ano passado o livro “Labor Clube Internacional de Montes Claros”.



Mas era realmente uma das coisas mais preciosas da cidade o trem de passageiros. Saía de Salvador e entrava em Minas Gerais pelo Vale do Jequitinhonha, passava por Monte Azul e chegava a Montes Claros, de onde ia para Belo Horizonte e de lá ao Rio de Janeiro com o nome de “Vera Cruz”. De BH/Rio era trem elétrico.



Uma senhora viagem. Apesar da demora, as vantagens eram muitas para quem gostava de apreciar as belezas da Mãe Natureza e ao mesmo tempo experimentar a sensação de ter contato com gente, pessoas diferentes, de todos os cantos. Era boa oportunidade para estudos socioeconômicos e antropológicos do brasileiro.



Quem é mundissensor, certamente iria gostar de fazer hoje uma viagem desta. No fundo, bem no fundo, uma viagem ao interior de si mesmo, tamanha profundidade e a oportunidade de sentir, ver e ouvir as mais incríveis histórias dignas de serem narradas por Darcy Ribeiro e Gabriel Garcia Marques, que vão fundo na alma humana.



É incompreensível o porquê de terem acabado com o trem de passageiros, por mais que tenham argumentos para provar por A mais B que era necessário mesmo. Na realidade, o quase fim da ferrovia começou com o incremento da indústria automobilística, introduzida por JK.



Não foi à toa que o batizaram de “presidente estradeiro”, porque a partir dele as rodovias ganharam cada vez mais espaço e de pouco em pouco a ferrovia perdeu investimento até dela se esquecerem. E deu no que deu.



Mas incentivar o ressurgimento da ferrovia é possível, sem prescindir, claro, da malha rodoviária precisada de manutenção constante; tapa buraco aqui, ali e acolá e os buracos estão de volta dando prejuízos de vidas humanas e materiais.



O Brasil é muito grande e um ramal ferroviário poderia cortar o país de cabo a rabo, reduzindo gastos de toda ordem e principalmente de manutenção.



Depois de publicado o texto sobre “O trem de passageiros”, o amigo Wagner Gomes, o tempo todo de olho nos acontecimentos da política, gente fina da Montes Claros querida, enviou um vídeo muito interessante: “o trem chinês não para”.



É um trem de alta tecnologia, diferente do “Trem Bala” japonês. Desenvolve alta velocidade e embarca passageiros por meio de plataformas móveis nas estações. Uma cheia de passageiros à espera do trem substitui a dos viajantes que irão desembarcar. Para fazer isto, a velocidade é reduzida, mas o trem não para.



Evidentemente, caso o governo brasileiro resolva investir em ferrovia, não irá ressuscitar a Maria-Fumaça ou a máquina a óleo. Irá ao mercado buscar o que há de mais moderno, rápido e eficiente em matéria de trem.



Para os de hoje os trilhos são imantados e os trens nem tocam a superfície. Muito menos precisam de dormentes de madeira originários das matas naturais praticamente dizimadas, como aconteceu com a aroeira.



Só não sabemos se a velocidade dos trens de última geração permite aos passageiros o prazer de apreciar as belezas naturais de um lado e do outro da linha. Porque o gostoso mesmo, no caso dos trens antigos, era a possibilidade de debruçar na janela e contemplar a vegetação, os animais no campo, as pessoas às voltas com a rotina das roças.



Mas independentemente (Putz! Que palavrão!) de tudo isto, o importante é que surja, em Montes Claros, outro ministro Francisco Sá, a fim de trazer para a região o que há de mais moderno em transporte ferroviário.



Se isto acontecer, um Francisco Sá II, a sociedade montes-clarense terá que arranjar um lugar de destaque na cidade para erigir outra estátua, como a de Francisco Sá, para deixar, ele (estátua) e o nome dele vivos para a posteridade.



Assim como estão vivos para a posteridade o nome e a estátua do primeiro, lá onde ele olha na direção da Avenida Francisco Sá, de corpo inteiro, em riba de um pedestal, como quem diz para o mundo inteiro ouvir: “Montes Claros, coração robusto do sertão”.

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