Tráfego assassino - por Eugênio Magno

Jornal O Norte
Publicado em 01/08/2007 às 11:28.Atualizado em 15/11/2021 às 08:11.

Eugênio Magno *



O acidente com o Air bus 320 da TAM que vitimizou mais de 200 pessoas em uma tragédia, sem precedentes, chocou os brasileiros e repercutiu em todo o mundo. Há menos de um 1 ano do acidente com o avião da Gol que desgovernou depois da colisão fatal com o Legacy, comandado pelos pilotos norte-americanos, sobre os quais ninguém mais ouve falar, a população se vê novamente consternada com outro acidente aéreo, de proporções ainda maiores do que aquele.



O acidente com o avião da Gol, no ano passado, foi a gota d’água que mobilizou autoridades, imprensa e formadores de opinião em todo o país para a crise, apelidada de apagão aéreo. Na busca de possíveis culpados, a população não perdoa e condena: as empresas aéreas e seus funcionários, os controladores de vôo, os órgãos responsáveis pela fiscalização das aeronaves e pelo tráfego aéreo e o governo. Na época que os pilotos do Legacy ganharam seus salvo-condutos para regressarem aos Estados Unidos, onde foram recebidos com pompa, os comentários eram de que se a tragédia tivesse acontecido no espaço aéreo norte-americano e os pilotos sobreviventes fossem brasileiros ou de qualquer outra nacionalidade, dificilmente sairiam dos EUA.



De setembro de 2006 para cá a crise se agravou, vários segmentos da economia do país contabilizaram prejuízos e todos que dependem da malha aérea brasileira estão pagando caro pelos cancelamentos, overbooks, atrasos, panes e outros constrangimentos. Na busca de um bode expiatório, as instituições e os setores diretamente envolvidos na crise, promovem um verdadeiro jogo de empurra-empurra, com direito até a comemorações exaltadas e chulas que causaram enorme indignação aos brasileiros, especialmente aos familiares das vítimas.



Após duas grandes tragédias aéreas em menos de 1 ano, o governo tomou algumas medidas, que esperamos, todos, sejam cumpridas. Mas uma outra preocupação me assalta: o caos da nossa malha rodoviária. De acordo com estudo do Ipea, uma estimativa da Organização Mundial de Saúde apontou que no ano de 2002, cerca de 1,2 milhão de pessoas morreram em conseqüência de acidentes de trânsito nas rodovias. Isto representa, mundialmente, uma média de 3.242 mortes por dia. Além dessas mortes, estima-se que entre 20 e 50 milhões de pessoas saíam feridas ou incapacitadas, em decorrência de acidentes de trânsito, nas rodovias, a cada ano. No Brasil em 2004, ocorreu uma média de 308 acidentes por dia, aproximadamente 13 acidentes por hora, apenas nas rodovias federais. O nosso país é um dos campeões mundiais de acidentes de trânsito e Minas, por ter a maior malha rodoviária do Brasil é o estado em que ocorrem mais acidentes. Segundo dados do DER, no ano de 2006, foram registrados 34 mil mortos (no local) e 400 mil feridos (sen


do que muitos destes podem ter morrido no hospital), em acidentes de trânsito, nas rodovias brasileiras. Os acidentes produzem vítimas fatais, deixam seqüelas de graus variados entre os sobreviventes e efeitos adversos entre os membros da família, além de um ônus da ordem de 10 bilhões de reais.



Será que os números dessa tragédia que cotidianamente ceifa tantas vidas precisará ser elevada à enésima potência para que medidas urgentes sejam tomadas para melhorar as condições de nossas estradas, disciplinar o tráfego e melhor fiscalizar os dispositivos dos automóveis, ônibus e caminhões?



Nós, cidadãos brasileiros, exigimos mais do que a punição dos culpados, em todas essas trágicas situações. Bradamos por soluções, proteção contra o tráfego catastrófico e segurança, para ir e vir, sobre os trilhos, na água, na terra ou no ar.



* Comunicólogo, mestre em artes e especialista em educação e em fé e política

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