Felippe Prates


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Em 1920, Antônio Prates Sobrinho, o Major Prates, nosso avô, foi nomeado Chefe Geral do Recenseamento do Norte de Minas Gerais.  Para que pudesse viajar e recensear as demais cidades da região, atribuiu a seu irmão Manuel, tio Neco, a Chefia do Recenseamento em Montes Claros.  O tio Neco era uma figuraça! Alegre, extrovertido, rapidamente conquistava a simpatia de quem dele se aproximava. Viúvo aos 38 anos, considerado um bom partido pelas moças da terra, mantinha um estreito relacionamento com as damas da noite, de quem se tornou amigo.  Certa vez, caminhando pelo meio da rua dos Marimbondos, centro da zona boêmia, para fazer média com a amigas exclamou bem alto, com sua bela voz de barítono:

- Todas as moradoras desta rua são lindas!

Eis que uma delas, já meio velhusca, surge na janela de uma das casas, sorrindo-lhe de orelha a orelha, hospitaleiramente, com as gengivas vermelhas à mostra em que havia um único dente!  Tio Neco, firme, sem passar recibo daquela assombração, seguiu em frente, mas acrescentou:

- Isto é, nem todas...

Inovador, Tio Neco resolveu expedir convites aos moradores da cidade para comparecerem ao gabinete em que se instalara no prédio da Prefeitura, onde seriam recenseados.   Numa época em que nada acontecia de novo, o recenseamento virou atração local e tinha até platéia.

Um belo dia aconteceu o inevitável.  Uma das preferidas de Tio Neco, moradora da rua dos Marimbondos, apareceu para ser recenseada.  Importantíssimo, Tio Neco não se fez de rogado e fingindo não saber de quem se tratava iniciou o questionário:

 - Nome?

 - Maria.

 - Maria de quê?

 - Maria de Jesus, uai....

 - Endereço?

 - Lá...

 - Lá, lá, lá....Isso lá é endereço?  Endereço é o nome da rua e o número da casa em que uma pessoa mora.  Endereço?

 - É lá...

 - Dona Maria de Jesus!  Pela autoridade da qual estou investido, posso mandar prendê-la por desacato! Pela última vez, disse ele, em voz alta, enérgico, lançando um olhar 33, solene, para as dezenas de pessoas que hirtas, caladíssimas, a tudo assistiam: Lá, aonde?

 - Ora, “siô” Neco!  É lá aonde nois dois briquita!

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No simpático alpendre da casa de dona Chiquita Lafetá, na esquina das ruas Lafetá com Dr.Veloso, estávamos conversando Caio, Sérgio, Zé Souto, Fernando Oliveira, Telé  (atenção para a seleção!) e nós, quando Caio nos disse ter conhecido um cidadão dono de uma pontaria incrível, fora do comum:

- Imaginem que ele coloca uma bala de revólver a 50 metros de distância e com um único tiro desloca a bala!

- Ô Caio!  Não vejo nada demais nisso, disse Telé.

- ?!

- Só o ar da bala abala a bala e a bala cái...

Inesquecível!