José Wilson Santos
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Ai que é de cortar o coração a situação penosa do ex-governador Arruda, de Brasília, que a PF fez dar com os costados no xilindró por causa de corrupção da braba.
Sua defesa apareceu na maior cara dura na tevê lá de casa, em horário nobre, para denunciar em alto e bom som que o tadim do Arruda tá dodoi e não pode continuar na cana dura sem que isso configure uma baita sacanagem para com o ilustre membro da corte.
E a defesa vai mais longe: dá a entender que por trás dessa postura tipo tô-nem-aí há uma certa má vontade, um complô de juizes insensíveis, desalmados e sem coração, fortalecidos por um ministério público intransigente, que não gosta de panetones, para manter um cabra bom como o tadim do doutor Arruda atrás das grades, sem nem levar em consideração que os mocotós dele incharam pra dedéu, o que significa que sua pressão subiu mais do que a pequena cela que ocupa pode suportar.
A situação indigna a defesa, que parece ver nessa intransigência da justiça, que insiste em não conceder hábeas-corpus, um ato de grave desrespeito à posição do tadim do doutor Arruda, bem como um risco iminente de esculhambação que pode levar à falência o consagrado sistema de mensalão, instituído inicialmente a nível federal.
Tão tá então...
Se é para ficar momentaneamente fora do ar, a defesa insiste que o tadim do doutor Arruda fique fora do ar em sua casa, no conforto de bela mansão com ar-condicionado potente para ele e as suas ilustres visitas. Ademais, em casa há um solícito batalhão de secretários do lar à sua disposição, para não deixar que um pedido do ex-governador fique mais que 30 segundos sem atendimento.
O que não vem acontecendo -- imagine você, Índio Velho, que coisa horrorosa! -- por parte dos carcereiros da PF. A defesa considera o cúmulo do absurdo, o fim-da-picada os caras só levarem desejum, almoço, café da tarde (sem panetone) e jantar pro tadim do doutor Arruda. Cadê o uisquinho, remédio veris porreta pra pressão alta, hem?
Não bastasse tudo isso, parece que a justiça não tem levado em consideração mais um desagravante que conspira a favor do tadim do doutor Arruda ir pra casa: com todo respeito, ele tem uma esposa supimpa, tipo violão, muito jovem, de modos que não pega bem, não tá certo, a bichinha ficar sozinha, a ver navios.
Como pode a justiça manter-se tão insensível para com o tadim do doutor Arruda, mantendo-o no xilindró, impedindo-o de desincumbir-se dos favores que a sacrossanta instituição do matrimônio lhe impõe? É o que a defesa quer saber.
A situação, seguindo o raciocínio lógico da defesa, é deverasmente preocupante. Vai que os desdobramentos dessa merda toda mude os conceitos tão profundamente enraizados na tradicional sociedade brasileira, e de repente, não mais que de repente, uma corrupçãozinha, o embolso de alguns milhõeszinhos do dinheiro público, tidos como esperteza política, se transforme em crime? E mais: e se em decorrência disso, virar moda a justiça cassar os mandatos antes que os caras abram mão deles para manter os direitos políticos?
Já imaginou, Índio Velho, a bagunça que será?
Se a justiça seguir endurecendo, como será para preencher as vagas nas várias esferas?
Eu, hem, Conceição!