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Sexta-Feira,20 de Setembro

Solidariedade

Jornal O Norte
19/08/2005 às 16:58.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:50




Aprígio Veloso Prates *





Dia desses eu fui até uma casa lotérica no centro da cidade pagar uma conta, e ali me deparei com uma cena no mínimo curiosa: uma pobre mulher, muito humilde, pálida, pés descalços e trajando roupas muito pobres mesmo, pedia esmolas na porta. Como eu já havia pago a conta, dei-lhe uma moeda de cinqüenta centavos, e fiquei alguns momentos por ali, e vi quando um  senhor muito bem vestido saiu do caixa com vários cartões da mega-sena que estava acumulada em mais de quarenta milhões de reais. Ele ainda contava o troco quando a pobre mulher lhe estendeu a mão, recebendo de cara uma resposta negativa, dizendo-lhe:




- Não tenho trocado.




Em seguida o referido cidadão atravessou a rua, andou alguns metros e entrou na sua pick-up Ranger que ali se encontrava estacionada,  deu partida e se foi. Fiquei pensando comigo mesmo: como pode um homem aparentemente rico, pelo seu jeito, modo de trajar, pela sua opulência, e pela categoria de seu veículo, negar uma simples moeda, ou mesmo negar um real a uma pobre criatura que, talvez, não tenha em casa um pão para comer? Como pode um sujeito que, além de já ser rico e que almeja ganhar quarenta milhões de reais na loteria, negar um pão a quem precisa? Com aquele pensamento na cabeça, eu fui embora, e o movimento da rua me fez esquecer por alguns minutos aquela cena.




Cheguei em casa, lá no Santa Rita, e me deparei com um homem que se encontrava sentado em um degrau na calçada da minha casa.




Muito maltrapilho e com pés no chão, tal qual aquela senhora da casa lotérica, comia um pedaço de pão e tinha nas mãos uma pequena sacola plástica com algumas mexericas.




Ao ver-me abrir o portão de minha casa, ele me disse:




- Eu pedi ao rapaz um pouco de café para tomar com o pão.




E eu lhe disse que esperasse um pouco que seria atendido, mas logo em seguida já vinha meu filho trazendo um copo de café com leite, que lhe foi entregue.




Eu entrei para casa e meu filho ali ficou por alguns minutos, e quando entrou, para minha surpresa, perguntou-me:




- Pai, como pode ser essa gente? Aquele homem pediu um copo de café para comer o seu pão, e eu lhe dei, e uma moça que passava na rua, vendo as mexericas, pediu a ele uma e ele deu, e ela saiu descascando a mexerica e foi-se embora.




Então eu disse ao meu filho:




- É que a solidariedade que faltou e falta naquele cidadão rico que estava na casa lotérica, e em muitos outros como ele, acompanha aquele pobre mendigo.




*Advogado e articulista





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