Eduardo Lima
Diante do cachorrão da boca preta, aturdido em meio a tanto dente. Diante da imagem de um homem estraçalhado pela cachorra fúria dos pit-bull recupero um medo de menino; sempre tratei cachorro longe. Não atribuo, contudo, mesma malignidade a cão e gato, já que da estirpe dos felinos vêm casos mais veementes, tais como as presas de tigres e demais instrumentos de estraçalhar.
Cachorro, creio, pode ser adestrado. Há até os que creiam tratar-se do melhor amigo do homem. Por prudência, lhes digo, ele é o melhor amigo do dono. Homem nenhum, nem o vizinho, nem o fortuito merecem carinhos de cão. Estes casos dos pit-bull que ferem e matam merecem mais atenção do poder público, mas, tristemente, apenas a ocorrência da tragédia consegue ser instrumento eficaz para acordar a sociedade.
E como hoje é sábado, logo mais tem e a gente não é de ferro, valem divagações. Na TV Terra um vídeo de um cão tenor, melhor aproveitado do que cães assassinos. A dona dele toca piano, canta e o bicho ladra no tom. Fazem um dueto aceitável. Outra notícia à toa dá conta da condenação de um assaltante de bancos apanhado no último maio em Austin, no Texas.
Na ocasião Paul Wendel Gunn, 61 anos, rendeu o caixa, encheu uma sacola de dinheiro e ao deixar a agência com o produto do roubo, parou diante de uma mesa onde havia revistas. Interessou-se por uma delas e parou para ler. A polícia cercou a agência e uma hora depois o assaltante distraído se entregou - não sem ler a matéria na íntegra. Fatos que enchem nossos dias de riso, mais do que de siso. Fatos à toa necessários ao distrair. Pois ainda nesta linha tem a história de Boo Boo. Boo Boo era uma galinha - era porque morreu.
Em fevereiro último Boo Boo sofreu uma parada cardíaca e foi salva pelo seu dono depois de uma sessão de respiração boca a boca – ou boca a bico, como queiram. Isso aconteceu em Arkadélfia, Arkansas, Estados Unidos. Na última quarta, no entanto, Boo Boo não resistiu e veio a falecer.
Antes do último suspiro botou três ovos. Levados à incubadora geraram três pintinhos, pintadinhos como a mãe. Boo Boo sobreviverá nos seus filhotes e você nunca saberia algo assim, tão bobo, se não estivesse lendo esta crônica. Por fim, não me acanho em comentar, um cientista, um filósofo e um avicultor britânicos anunciam que decifraram uma das mais fundas dúvidas da humanidade, o enigma da origem; quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?
Segundo os três, primeiro veio o ovo. Argumentam que o material genético não se transforma durante a vida do animal, portanto, a primeira ave que no decorrer da evolução se tornou o que chamamos hoje de galinha existiu antes como embrião no interior de um ovo.
Por mim eu faço a pergunta que não se cala: e quem botou o ovo? Esses ingleses pensam que mudaram a história da humanidade com tal análise. Vaidosos deram-na como conclusiva, mas não decifraram o mistério. Necessário à natureza humana, ele perdurará. O homem decifrado é um animal axiomático, tão fútil quanto a empáfia bretã. O homem decifrado é tão óbvio quanto um ovo.