Marília Borborema
Colaboração para OPINIÃO
Lançando-se mão de dados disponíveis no site do Departamento de Informática do SUS - DATASUS, podemos fazer algumas considerações sobre a dinâmica demográfica do município de Montes Claros. Para tanto, foram coletados os números da população residente em Montes Claros, excluindo-se aquela que vem aqui fazer compras ou estudar, ou outro qualquer, uma vez que essa população perfaz as estatísticas do seu município de origem e, embora venha aqui, não acumula a experiência de se viver em Montes Claros. Quanto aos óbitos, foram utilizados os últimos dados disponíveis, referentes ao ano de 2007. Ressalta-se que a população de trabalho é uma população projetada, intercensitária; o que difere daquela do censo, resultado de uma contagem.
O exercício de análise buscou, de forma simplificada, elaborar pirâmides populacionais e gráficos com as taxas de mortalidade e dados absolutos de óbitos masculinos; contudo, não foram feitas possíveis correções dos dados.
A análise da distribuição etária do município de Montes Claros em alguns pontos no tempo, como nos censos de 1980 e 2000 e no ano corrente de 2009, mostra que o município está em processo de envelhecimento populacional, seguindo o padrão do estado e país, como já exposto por diversos estudiosos. O grupo de população residente com 60 anos ou mais, em relação ao total populacional, passou de 4,1% em 1980, para 6,6% em 2000 e 8,6% em 2009. Já o contingente populacional de 0 a 14 anos variou em sentido contrário - uma consequência da queda da fecundidade; correspondia a 40,5% do total da população montesclarense de 1980, passando para 30,0% em 2000 e 26,0% em 2009.
A queda da mortalidade nas idades avançadas faz com que haja um maior número absoluto de idosos. E com a queda da fecundidade, há proporções menores de crianças na estrutura etária e, consequentemente, os demais grupos sofrem aumentos significativos - uma questão matemática.
No município de Montes Claros, o processo de envelhecimento em curso é observável nas pirâmides populacionais para os anos 1980 e 2009. Verifica-se o estreitamento da base e o ganho de peso relativo dos demais estratos da população (gráficos 1 e 2). As barras referentes ao contingente populacional de 0 a 14 sofreram redução no tamanho, enquanto as demais, indicativas dos indivíduos adultos e idosos apresentam maior expressividade numérica e gráfica.
Observando-se as pirâmides, as barras encostadas no eixo representam nossas crianças de 0 a 4 anos e indicam que, realmente, as mulheres estão optando em ter menos filhos. Há que se observar, ainda, que as barras do lado direito são as mulheres, e são o maior número na população. As últimas barras são os idosos - vejam o maior contingente de idosas. Alguém poderia dizer: mas estão nascendo muitas crianças! Por que? Essas crianças que estão nascendo são os(as) filhos(as) das filhas da alta fecundidade, ou seja, são muitas mulheres, de gerações de muitos irmãos, que estão tendo seus filhos agora; porém, cada uma está tendo um número pequeno de filhos (são um menor número de mulheres que ainda têm muitos filhos, e isso merece outra discussão, de outra vez).
Em se tratando da mortalidade, também para o ano de 2007, o que visualizamos nas ruas, bares, festas, na sociedade, em geral, é confirmado pelos números e nos gráficos: há mais mulheres que homens, em decorrência da sobremortalidade masculina - morrem mais homens que mulheres. O gráfico abaixo ilustra a mortalidade diferencial por sexo de pessoas residentes em Montes Claros:
Fonte dos dados básicos: DATASUS, acesso em outubro/2009.
A partir da faixa etária de 10 a 14 anos, as taxas de mortalidade de homens são superiores às taxas das mulheres, com alguns agravantes: a proporção de óbitos por causas externas (onde se computam os óbitos por homicídios, suicídios, acidentes de trânsito e demais acidentes e violências), perfaz um total de 20,5% de todos os óbitos de homens residentes em Montes Claros, em 2007. E podemos falar, também, da urgência de se melhorar as estatísticas vitais do município, pois que, em 2007, aproximadamente 10,7% do total de óbitos de ambos os sexos foram classificados no grande grupo das "causas mal definidas", ou seja, não se conhece a causa básica do óbito.
Em se tratando dos diferenciais de mortalidade e da formação das parcerias conjugais heterossexuais, oportuno ver a dimensão da componente demográfica no que tange ao estado civil. O gráfico a seguir esboça o total absoluto de óbitos distribuídos entre, exclusivamente, homens casados e solteiros, a partir dos 15 anos de idade:
Fonte dos dados básicos: DATASUS, acesso em outubro/2009.
Embora esboçar o número absoluto, que não é uma medida de risco, o gráfico possibilita suscitar a discussão sobre a mortalidade dos nossos jovens e solteiros! Vejam que até os 39 anos, o maior número de óbitos é de solteiros.
Pelo exposto, antes de considerarmos a possível felicidade cantada aos ventos, que "há muita mulher para poucos homens", logo, permitindo que estes "escolham" ou fiquem com várias mulheres, ficam duas questões de igual valor:
- Quem será o próximo homem a morrer? De tão profunda, vamos pensar no plural: nossos filhos? Nossos irmãos? Nossos pais? Cônjuges, namorados, casos, amigos, sobrinhos? Vamos cuidar de nossos homens! - O que será da população composta majoritariamente por mulheres?
E, sobre o envelhecimento populacional e na perspectiva do indivíduo - não obstante ser uma glória viver mais... pensemos: como estamos envelhecendo? E, no nível macro: hoje, somos muitos trabalhando e pagando as aposentadorias e pensões dos nossos pais/avós... quem irá pagar as nossas, tendo em vista o número de filhos que temos e o sistema previdenciário brasileiro? Essas questões não emitem juízos de valor, mas têm como objetivo instigar algumas reflexões...