Sob a chuva da indiferença

Jornal O Norte
17/12/2009 às 11:05.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:20

Samuel Gonçalves

É noite para variar chuvosa, tudo o que eu mais quero é chegar em casa, mas, com esse temporal, não consigo chegar sequer ao estacionamento. Não entendo por que deixei o carro tão distante. Simples: era a única opção.

Já me disseram que quando o seu dia começa mal, a chance dele terminar pior é muito maior. Pra começar, acordei atrasado, o que fez o meu dia ficar mais corrido. Tive de sair mais tarde do trabalho e resolveu chover tudo o que era para o mês  em uma única noite. Com a chuva ficando cada vez mais forte, sou obrigado a parar e me abrigar no primeiro lugar coberto que encontrei: a área de uma loja, lugar que tive de dividir com um mendigo e seu melhor amigo, um vira-lata.

Era difícil saber qual dos dois fedia mais. Eles pouco se importaram com a minha presença e continuaram com o banquete que, na verdade, eram uns pedaços de pizza que o homem retirava em meio ao lixo.

Essa cena me chamou a atenção de como os seres humanos são indiferentes uns com os outros. Aquele homem se contentando com tão pouco, tendo de viver de restos de comida, dormindo ao vento... É como se ele não existisse para a sociedade. Mesmo assim divide tudo o que tem com o seu melhor amigo, talvez o único que resta: um pobre vira-lata.

E eu reclamando por não conseguir chegar em casa. Quantos mais passaram ali e foram indiferentes àquela cena... Eu, chegando em casa, tomaria um bom banho, sorveria uma taça de vinho, jantaria... e teria uma cama quente para dormir.

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