João Avelino Neto
Advogado trabalhista
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega fingir que é dor
A dor que deveras sente."
Fernando Pessoa
No último fim de semana, dias 21 e 22, ocorreram eleições na OAB e no Partido dos Trabalhadores.
A primeira, da OAB, no sábado. A outra, do PT, no domingo.
Votei normalmente no sábado e, no domingo, deixei para fazê-lo à tarde, depois de voltar do Quilombo.
Cheguei à Câmara Municipal, faltavam uns vinte minutos para encerrar a votação. A casa do povo estava cheia de votantes. A maioria, formada de "cristãos novos". Passei pela mesa de credenciamento, certificando a minha condição de aptidão com os cofres do partido, daí rumando, sem perda de tempo, para a mesa receptora, vez que a hora de lacrar a urna s aproximava.
Mas, todavia, contudo, eis que um fato surrealista se antepõe ao meu direito livre e soberano de votar. Para que isso se materializasse, tornar-se-ia indispensável que eu me identificasse documentalmente.
De nada adiantou ponderar e recitar para o companheiro Raimundão, sob a espreita de João Figueiredo, outro não menos companheiro, os números da minha OAB/MG (39.417) e do meu CPF (187.340.226-00), além de declinar meus mais de meio século de vida e vivência, sem arredar os pés daqui. Disseram que estava no regulamento, sobre a mesa, norma cuja obediência eram adstritos, mesmo não concordando com ela. Robotizaram os companheiros!
Desrespeitado na minha militância política, envergonhado e indignado, abandonei o recinto.
Cheguei em casa e a decepção foi ainda maior, ao deparar-me com um panfleto, dando conta da retirada da candidatura de Aroldo Pereira à presidência do PT, fato ocorrido um dia antes, sem explicações convincentes, beneficiando, indubitavelmente, o candidato da situação. Cri no fingimento do poeta e frustrei.