Felippe Prates
Valadares nasceu com a vocação para escolher o lado certo.
Contava o senador Vitorino Freire às vésperas da queda do Estado Novo, em 1945, Getúlio Vargas tentava torpedear as eleições que prometera para permanecer mais tempo como ditador desejando, para isso, queimar a indicação do General Eurico Gaspar Dutra, já lançada. Benedito Valadares, governador-inventor em Minas, de início apoiava Dutra, mas vendo mudar o pêndulo achou melhor seguir Vargas – o que lhe permitiria, igualmente prolongar o seu governo. Os dutristas souberam e ele foi procurado em apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro, por oito coronéis comandantes de tropa, em uniforme de campanha. Exigiam que ele cumprisse o acordo político que havia assumido com o General Dutra, então ministro da Guerra e cada coronel ao se apresentar declinava a unidade sob seu comando. Valadares interrompe um deles, comandante do batalhão de Engenho, antiga denominação de morteiros pesados e pergunta o que era a volumosa arma que o coronel portava.
- O que é isso?
- Isso, Dr. Valadares, é uma arma tão terrível que é capaz de destruir o seu apartamento inteiro, não deixando siquer um pouquinho de pó, sem nem ao menos perturbar os seus vizinhos de cima e de baixo.
- Nossa senhora, como é que se inventa uma arma dessas contra a humanidade!
Sou Dutra! Sou Dutra!
Nascido em Pará de Minas Benedito Valadares chegou a ser mais do que a personificação do mineirismo: era a sua alma. Durante doze anos foi interventor e governador de Minas Gerais, responsável pelo surgimento na vida pública de Juscelino Kubitschek, Israel Pinheiro, José Maria de Alkimin, Ovídio de Abreu, Maurício Chagas Bicalho e outros. Farmacêutico, ao mesmo tempo em que se formava em Direito, tomou nas armas a prefeitura de sua cidade, quando irrompeu a revolução de 30. Em 32 é o chefe de polícia no teatro das operações na Mantiqueira, contra São Paulo, elegendo-se em seguida, deputado estadual. Chamado ao plano federal por Getúlio Vargas, foi nomeado interventor com a morte de Olegário Maciel.
Benedito Valadares (direita para esquerda, na segunda posição), 1933/ 1945
Em Minas, a revolução dividiu-se, Flores da Cunha apoiando Capanema e Osvaldo Aranha querendo Virgílio de Melo Franco. Getúlio encontrou a solução da disputa ao recomendar a Antônio Carlos que lhe levara uma lista com várias sugestões: para maior de espadas, ponha aí o nome daquele jovem político de Pará de Minas. O Andrada percebeu tudo e foi direto ao hotel de Valadares. Vou fazê-lo interventor de Minas. Benedito agradeceu e depois de raciocinar por um segundo comentou com a esposa, dona Odete: esta raposa velha veio anunciar como dele uma decisão do presidente...
O governo Valadares foi profícuo em obras e realizações, apesar da onda de críticas levantadas contra ele, por ocasião a redemocratização em 1946. Deposto com a ditadura, elegeu-se deputado federal e certa tarde, atacado e ridicularizado por seu suposto despreparo intelectual, defendeu-se pronunciando um dos mais belos discursos da história da Câmara, falando de improviso, um primor de erudição e um corajoso libelo contra os excessos oposicionistas. Escreveu dois romances O Esperidião e a Lua Caiu ambos atribuídos a Fernando Sabino, seu genro e ghost writer – ou seja, pessoa que redige textos para terceiros.
Fernando Sabino, o consagrado escritor e cronista recentemente falecido, juntamente com Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, surgiu na imprensa mineira em 1942, através de um concurso de contos organizado pelo jornal Folha de Minas, dirigido por Newton Prates. Desde então iniciaram suas carreiras de jornalista e desde cedo com muito sucesso. Como eram muitos jovens, com idade por volta dos 20 anos, foram apelidados os gibis. Monzeca, o montesclarense Hermenegildo Chaves, redator do jornal, na primeira vez que teve em mãos uma crônica de Rubem Braga, percorreu toda a redação mostrando o texto e dizendo entusiasmado:
- Prestem atenção neste nome de um desconhecido: Rubem Braga/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"mailto:felippeprates@ig.com.br">felippeprates@ig.com.br