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Sexta-Feira,10 de Janeiro

Sentença inusitada de um juiz, poeta e realista

Jornal O Norte
Publicado em 21/02/2008 às 10:27.Atualizado em 15/11/2021 às 07:25.

Esta aconteceu em Minas Gerais (Carmo da Cachoeira).  O juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da comarca de Varginha, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado:



- Desde quando furto  é crime neste Brasil de bandidos?



O magistrado lavrou então sua sentença em versos:



No dia cinco de outubro


Do ano ainda  fluente


Em Carmo da Cachoeira


Terra de boa gente


Ocorreu um fato inédito


Que me deixou descontente.



O jovem Alceu da Costa


Conhecido por “Rolinha”


Aproveitando a madrugada


Resolveu sair da linha


Subtraindo de outrem


Duas saborosas galinhas.



Apanhando um saco plástico


Que ali mesmo  encontrou


O agente muito esperto


Escondeu o que furtou


Deixando o local do crime


Da maneira como entrou.



O senhor Gabriel Osório


Homem de muito tato


Notando que havia sido


A vítima do grave ato


Procurou a autoridade


Para relatar-lhe o  fato.



Ante a notícia do crime


A polícia diligente


Tomou as dores de Osório


E formou seu contingente


Um cabo e dois soldados


E quem sabe até um tenente.



Assim é que o aparato


Da Polícia Militar


Atendendo a ordem expressa


Do Delegado titular


Não pensou em outra coisa


Senão em capturar.



E depois de algum trabalho


O larápio foi encontrado


Num bar foi capturado


Não esboçou reação


Sendo conduzido então


À frente do Delegado.



Perguntado pelo furto


Que havia cometido


Respondeu Alceu da Costa


Bastante extrovertido


Desde quando furto é crime


Neste Brasil de bandidos?



Ante tão forte argumento


Calou-se o delegado


Mas por dever do seu cargo


O flagrante foi lavrado


Recolhendo à cadeia


Aquele pobre coitado.



E hoje passado um mês


De ocorrida a  prisão


Chega-me às mãos o inquérito


Que me parte o coração


Solto ou deixo preso


Esse mísero ladrão?



Soltá-lo é  decisão


Que a nossa lei refuta


Pois todos sabem que a lei


É prá pobre, preto e puta...


Por isso peço a Deus


Que norteie minha  conduta.



É muito justa a lição


Do pai destas Alterosas.


Não deve ficar na prisão


Quem furtou duas penosas,


Se lá também não estão presos


Pessoas bem mais charmosas.



Afinal não é tão grave


Aquilo que Alceu fez


Pois nunca foi do  governo


Nem seqüestrou o Martinez


E muito menos do gás


Participou alguma vez.



Desta forma é que concedo


A esse homem da simplória


Com base no CPP


Liberdade provisória


Para que volte para casa


E passe a viver na glória.



Se virar homem honesto


E sair dessa sua trilha


Permaneça em  Cachoeira


Ao lado de sua família


Devendo, se ao contrário,


Mudar-se para  Brasília!

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