Haroldo Lívio de Oliveira *
Talvez por ser a Cidade da arte e da cultura, assim batizada pelo teatrólogo Reginauro Silva, Montes Claros mantém-se uma cidade pra lá de civilizada, onde sempre se comeu e se bebeu do bom e do melhor. Esta vetusta tradição de caprichar nos comes e bebes vem de muito longe. Vem desde os primeiros albores da vida urbana, por ocasião da elevação da vila às honras de Cidade do Império do Brazil, em 3 de julho de 1857. Consta, nos anais da história, que houve retumbante comemoração cívica seguida de farto regabofe.
O montes-clarense de antanho fazia questão de acompanhar as novidades da culinária, que vinham de Paris via Rio de Janeiro. Nossos historiadores noticiam um banquete a rigor oferecido ao ministro da Viação, nosso conterrâneo Francisco Sá, em 1924, faltando apenas dois anos para a chegada dos trilhos da EFCB. Cumpriu-se, rigorosamente, o protocolo observado em recepções oficiais. Todos os cavalheiros de traje passeio completo e todas as damas vestindo a toalete do “dernier cri”. Evidentemente, que o cardápio foi escrito em francês e a cozinha parisiense foi copiada, no que apresentava de mais deliciosas iguarias. O champanhe Veuve Clicquot jorrou e o ágape foi aberto com o brinde de praxe em honra do Presidente da República. Isto prova, historicamente, que o povo de Montes Claros sempre esteve na vanguarda de costumes fidalgos, notadamente no que diz respeito à cozinha e bodega.
Ao longo do tempo, sempre tivemos ótimos bares e restaurantes. E notáveis cozinheiros, registre-se por questão de justiça. Quando aqui cheguei, em 1953, já havia locais afamados pela excelência da mesa. O maitre Pedro de Alcântara Valério, que veio do Rio, pontificava no ramo.Em seguida, vieram o Acaiaca, o Mangueirinha, o Mangueirão e o Intermezzo, entre outros que marcaram época, nos Anos Dourados.
Atualmente, Montes Claros é uma verdadeira metrópole da gastronomia. Os moradores da cidade e os visitantes, elogiam o alto nível dos restaurantes e “buffets”, que oferecem cozinha de padrão internacional.
Embora não seja da minha conta, não consigo entender porque empresas locais , às vezes, contratam “buffets” de outras localidades para suas recepções. Recentemente, veio um de São Paulo trazendo até as cadeiras, como se não dispuséssemos de estabelecimentos capacitados para atendimento nota 10. Pode ter sido falta de informação sobre nossas tradições culinárias e experiência na arte de receber. Resta a certeza de que essas empresas, caso venham a conhecer a prata da casa, chegarão à conclusão de que buscar “buffet” lá fora é jogar dinheiro pela janela. Ressalva-se, entretanto, que o dono do dinheiro pode gasta-lo como bem entender. E que isto não é da conta de ninguém...
* Do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros