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Sábado,11 de Janeiro

Santa Casa

Jornal O Norte
Publicado em 28/10/2010 às 09:48.Atualizado em 15/11/2021 às 06:42.

José Wilson Santos


zewilsonsantos@hotmail.com



Lugar houvesse em que o Senhor descesse à Terra e passeasse anonimamente entre seus Filhos, a perscrutar-lhes as dores dos corpos e das almas, esse lugar seria a Santa Casa - não por acaso de Misericórdia. Soube-o assim que lá pisei os pés, dia desses, com Melancia à tira-colo, para darmos à luz Isaac Wilson e Ítalo Kaleb, minhas raspinhas do tacho.



Um exército de anjos ocupa, parece sob comando Divino, cada palmo da Santa Casa, numa disciplina de formiguinhas em sua azáfama diária, hora após hora, dia após dia, incansável em seu ir-e-vir, em sua eterna missão de fazer o bem sem olhar a quem.



Nas vastidões da Santa Casa, todos os homens são iguais. Não há bonitos ou feios, bem-vestidos ou mal-vestidos, pobres ou ricos. Lá, na espera angustiante pela boa notícia de que a vida foi prolongada, ou de que nasceu uma nova pessoinha, bela e cheia de saúde, descobre-se que seus anjos desconhecem classe social, não fazem rapapés; respeitam os limites físicos impostos pelo status -- essa coisa humana com a qual se busca fazer algumas pessoas melhores que outras --, mas se limitam a dar materialmente a César o que é de César. Porque atenção, afeto genuíno e pujante, e cuidados, esses eles derramam indistintamente, igualitariamente e fraternalmente.



Homens e mulheres multiplicam-se alegremente, agigantam-se e apiedam-se no trato com as levas de enfermos que chegam hora após hora, dia após dia; uns, a desfiarem seus rosários de mazelas; outras, a trazerem filhos e filhas à luz, no divino milagre de renovar a vida e a esperança no homem. Ninguém passa por ali sem receber um gesto de solidariedade, uma palavra de incentivo e conforto, uma manifestação de fé no Senhor e na vida.



É voz corrente que os homens embrutecem no trato diário com o sofrimento, de forma que dar alento e alívio aos semelhantes torna-se, no dia-a-dia, tão-somente um modo qualquer de ganhar a vida. Isso não é verdade, senhores e senhoras: dou-lhes meu testemunho de que aqueles anjos carecem de salvar vidas para continuarem existindo plenos de felicidade e de satisfação pelos corredores da Santa Casa.



São tantas as dores e tantos os dramas, por entre as paredes de quartos a apartamentos sem ter fim, que é consenso dizer que o Senhor dá plantão na Santa Casa, a derramar, Ele próprio, sem fazer acepção de pessoas, como convém que também façamos, bálsamo sobre seus filhos e suas filhas, aliviando e dando esperanças quando o remédio do homem parece desacreditado.  



Eu próprio o encontrei ali, estou certo disso. No desespero da UTI neonatal, pude ver que meu pequeno Isaac estava acomodado não numa máquina fria e impessoal, mas sobre sua Mão, e cercado de anjos, ele e todos os pequeninos que ali estão para cuidados intensivos. E então, tive cristalina certeza de que meu filho vai para casa, são e salvo. Porque aquele que pede será atendido, e àquele que bate, abrir-se-a. Graças a Deus por isso.

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