Damião Alves *
Espancar mulher é normal. Pelo menos é o que pesam os povos da região dos lagos na Nigéria, país no Oeste africano que tem 130 milhões de habitantes. É o país mais populoso da África negra. Tentar desobedecer as regras vigentes nessa região do mundo é como comprar briga com todos que circulam ao seu redor.
Leis relativas a agressões físicas podem ser aplicadas, mas a lei vê como normal o espancamento e a agressão física. Lei contra a violência doméstica foi proposta em 36 províncias nigerianas, mas foram aceitas somente em duas delas, ou seja, 5% em toda a região.
A violência doméstica é responsável por mais de seis entre dez casos de homicídios julgados nos tribunais daquele país. Mulheres costumam ter níveis inferiores aos dos homens. Trabalha mais horas por dia e, além disso, carregam três vezes mais peso que os homens, transportando lenha, água e sacos de milho na cabeça.
Pesquisa médica informa que uma namorada ou mulher é espancada por seu companheiro a cada seis horas. A maioria das mulheres mantém silêncio sobre os abusos que sofre. Seis de cada sete vítimas que sobrem ataques revelam o acontecido somente a parentes ou amigos. As ativistas que militam em defesa das mulheres dizem que a onipresença dos maus tratos é um sentimento do baixo status da mulher nigeriana.
Na Nigéria, é comum a mulher ser tratada por seus maridos como sacos de pancada. O homem nigeriano agride por pensar que a mulher é inferior a eles. Isso significa aceitar que ele é quem toma as decisões finais. Que todos os bens têm que estar em nome deles. E que a mulher tem que pedir permissão para ir visitar sua família.
Alguns depoimentos:
- Eu fui à polícia, mas me disseram que eu não sou menininha. Se eu não quisesse continuar casada deveria me divorciar.
- Meu sogro disse que espancar a mulher é normal. O pastor disse que eu não irritasse o meu marido. Ele disse: o que seu meu marido disser, você aceita. Se o casamento fracassa, a culpa cai sobre a mulher.
- O homem nigeriano acha que a mulher é um bem que lhe pertence, como um carro, um sapato. Algo que pode ser pisoteado. Nossos homens precisam ser reeducados. Nossos pais, nossas mães, nossos filhos. Toda nossa sociedade precisa passar por uma reforma.
- Eles acham que a mulher não tem direitos próprios. Se eu digo não, me bate. Além disso, muitas mulheres concordam que a transgressão de uma mulher casada justifica que o marido a espanque. O marido tem o direito de bater na mulher que discute com ele, queima a comida, sai sem autorização, não cuida dos filhos ou simplesmente se nega a fazer sexo com ele.
* Articulista e musicista