Petrônio Braz
Em tempos idos, em um dia do mês de junho de um ano da década de setenta do século passado, ainda me vem à lembrança, viajava eu de jipe, em companhia de três ajudantes de labutas topográficas, pelo extenso território do Norte de Goiás, hoje Tocantins, quando avistamos, à beira da estreita e poeirenta estrada, um casebre de pau-a-pique, coberto de sapé.
Aproximava-se do meio-dia. Estávamos com fome e sede.
O casebre tinha duas portas de frente, sem janelas. Ao fundo, outra construção do mesmo material, possivelmente uma residência familiar.
Paramos e descemos para esticar as pernas e verificar a possibilidade de atendimento às nossas necessidades alimentares.
A choupana era um modesto armazém de beira de estrada. Entramos.
Um rudimentar balcão separava, pela metade, a área interna. Ao fundo, prateleiras de madeira com mostruário variado de mercadorias. Um banco e algumas trepeças eram os únicos móveis ofertados à comodidade dos esporádicos fregueses. Sobre o balcão, uma balança rudimentar com pesos de ferro de tamanhos variados; um rolo de fumo, já pela metade.
De pé, próximo ao balcão, perguntei ao suposto proprietário, depois dos naturais cumprimentos:
- Tem condições de nos fornecer comida?
- Posso mandar preparar um frango, com arroz - respondeu ele.
- Está ótimo.
Assentado em uma das trepeças, os outros companheiros acomodados no banco, olhei para a prateleira e avistei três garrafas de Brahma junto a outras bebidas. Eu nunca tinha visto cerveja em prateleira de boteco. Pedi uma pinga, que ofereci aos companheiros e, logo depois, dirigindo-me ao atendente determinei, apontando com o dedo indicador da mão direita:
- Abra uma daquelas cervejas, para matar a sede.
Eu já havia bebido cerveja quente nas festas da Serra das Araras, nos anos cinquenta.
Ele, sem argumentar, logo atendeu.
Bebemos a metade do líquido da garrafa. A outra metade perdeu-se em espumas. Pedi para abrir a outra e, por fim, a última da prateleira.
O suposto proprietário ausentou-se para o interior, mas logo retornou:
- A comida não demora – informou ele.
- Uma pena! A cerveja acabou – disse eu.
- Acabou, não. Lá dentro tem mais, geladinha.
Ele tinha, no interior do casebre, uma geladeira a querosene.
Contei essa passagem pitoresca de minha vida algumas vezes, em rodadas de amigos. Em um dos inúmeros encontros aos domingos, na Barraca do Livro, na Praça da Matriz, o confrade Wanderlino Arruda recontou o fato, atribuindo o acontecido a um político, no período eleitoral. A gente ouve fatos e, depois, se esquece das origens.
*Escritor