Adilson Cardoso *
Renan não foi cassado. Quem achava que a dignidade da câmara alta da República seria resgatada, após tantas repercussões negativas, ficou perplexo, assim como eu e milhões de brasileiros. Guardo com saudosismo um adesivo do PT, de formato retangular, fundo escuro e letras brancas, em caixa alta, com a inscrição CORRUPÇÃO NUNCA MAIS. Abaixo das letras, uma mão que se projeta de dentro da bandeira do Brasil, rasgando ao meio, onde se notam claramente pedaços do azul e amarelo se esfacelando com a força do membro. Abaixo, em letras também na mesma proporção e cor, lia-se CPI JÁ!. Na seqüência descendente, a estrela vermelha finalizando com Diretório Nacional.
Essa poderosa arma de mobilização popular faz parte do passado para esses dirigentes que buscam o poder da mesma forma sórdida que qualquer outro partido da extrema direita. Foram manobras, reuniões fechadas e imposições, sem falar das promessas de favores dispensados à horda venal que se sustenta da barganha na casa do poder.
Tudo isso para salvar Renan da cassação, porque é aliado do governo e, como este, vive de parceiros programados para dizer sim, a permanência do senador seria mais interessante. Mas não para o povo, que acompanhou desde o dia 25 de maio, quando a revista Veja denunciou que o lobista Cláudio Gontijo, da empreiteira Mendes Júnior, pagava despesas particulares de Renan Calheiros.
E, ainda, que o senador usou da sua influência para minimizar as cobranças de dívidas da cervejaria Schincariol com o INSS, para em troca esta comprar por preço exorbitante uma velha fábrica de seu irmão. Ainda denúncias da compra de duas rádios, usando laranjas para legalizar o processo, e desvio de recursos de ministérios comandados pelo PMDB.
Mesmo sob todas essas acusações, o chefe do senado se mantinha firme, desdenhando a nação com seus argumentos inverossímeis, e pouco se importando com o que a imprensa noticiava sobre a repercussão dos escândalos. Renan tinha certeza da sua absolvição, quando disse que para tirá-lo de lá teriam que sujar as mãos. Estava se referindo a fossas cavadas pelos aliados, que misturavam todos os tipos de defecação, e a profundidade da podridão poderia ser imensurável.
E assim eles transformaram mais um escândalo (ou vários) em pizza! Em resposta, a música em seus inspirados trechos, desabafa:
- Vem, vamos embora, que esperar não é saber/quem sabe faz a hora/não espera acontecer... (Geraldo Vandré).
- Meu irmão, se liga no que eu vou lhe dizer,/depois que ele for eleito,/dê aquela banana pra você ( Bezerra da Silva).
- Minha dor é perceber/que, apesar de termos feito tudo,/tudo que fizemos,/ ainda somos os mesmos ( Elis).
- Brasília é uma ilha falo,/por que eu sei, uma cidade que fabrica sua própria lei,/é lobby, é conchavo, é propina é jeton/variações do mesmo esquema/sem sair do tom ( Paralamas do Sucesso).
- Nas favelas, no senado,/sujeira pra todo lado,/ninguém respeita a constituição,/mas todos acreditam no futuro da nação,/que país é este? (Legião Urbana).
- Se gritar pega ladrão,/não fica um; meu irmão,/se gritar pega ladrão/não fica um... (Exporta Samba).
Estas são algumas sugestões para o momento, sem esquecermos que existe o João Plenário, do fantástico Saulo Laranjeira, que está sempre nos trazendo as velhas novidades do submundo da politicalha. Para finalizar, mais um pouco de indignação nas letras da banda de pop rock nacional Ultraje a Rigor:
- F.D.P, é tudo F.D. P,/cês me desculpem o palavrão/bem que eu tentei evitar,/mas não achei outra definição/que pudesse explicar com tanta clareza/ tudo que a gente sente,/a terra é uma beleza,/mas o que estraga é essa gente,/ F.D.P, é tudo F.D.P!
* Aprendiz de escritor