Reforma protestante: 492 anos

Jornal O Norte
30/10/2009 às 09:25.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:15

Geraldo Sá


Teólogo

Martinho Lutero, em 1505, com 22 anos, resolveu tornar-se um monge agostiniano. Sua justificativa para tal ato foi a de que o caminho mais adequado para a salvação era através da vida monástica.

Mas, no convento, Lutero não encontrou a paz de espírito desejada. O sentimento de culpa pelo pecado e a sensação de estar sempre debaixo da ira divina fez com que ele se excedesse em jejuns, vigílias e flagelações; além do quê, procurava seu confessor a toda hora. Em 1512, para tentar minorar a angústia do futuro reformador, seu superior, Staupitz, mandou que ele fosse lecionar Filosofia e Teologia na nova universidade de Wittenberg, recebendo, para o exercício do cargo, o título acadêmico de doutor em teologia.

No ano seguinte, enquanto lia a Carta aos Romanos, Lutero deparou-se com o texto “O justo viverá por fé” (Rm 1.17 b) e concluiu que a “justiça de Deus” não se refere ao fato de que Deus castigue os pecadores; mas, que a justiça do justo não é obra sua, mas um dom ou dádiva de Deus. O crente vive pela fé, não porque seja justo em si mesmo, ou porque cumpra as exigências da justiça divina, mas porque Deus lhe dá esse dom.

Nas universidades medievais, era costume apor-se, em lugares públicos, a defesa ou ataque de certas opiniões. Esses escritos eram chamados de “teses”, nas quais se debatiam as idéias e se convidavam todos os interessados para uma discussão acadêmica. No dia 31 de outubro de 1517, véspera do dia de Todos os Santos, quando muita gente comparecia à igreja do castelo de Wittenberg, Lutero afixou, nas portas dessa igreja, 95 teses que deviam servir de base para um debate acadêmico, onde atacou principalmente a prática das indulgências; declarando que estas não tinham poder para remover a culpa ou afetar a situação das almas no purgatório; e que o cristão arrependido tinha o perdão vindo diretamente de Deus.

No ano seguinte, em Augsburgo, os reformados luteranos expuseram sua teologia, através de uma Confissão, que é considerada a Carta Magna da Reforma Luterana, da qual podemos extrair cinco princípios básicos: 1) só a Escritura, 2) só a Fé, 3) só Cristo, 4) só a Graça e 5) Sacerdócio Universal. A ordem conforme foram apresentados não indica uma maior importância de um sobre os demais, visto que cada um deles tem a ver com os desvios ou erros em que a Igreja Católica havia incidido ao longo de mil e quinhentos anos.

A Dieta de Augsburgo deu um ultimato aos protestantes, o que valeu por uma declaração de guerra, que finalmente eclodiu em 1546, pouco depois da morte de Lutero, que faleceu aos sessenta e três anos.


 


Principal Argumento - ( a justificação pela fé) Romanos 1:16-17

A fé não é uma qualidade do homem, pela qual ele mereça uma recompensa da parte de Deus.

A justificação pela fé, pela qual o homem recebe o perdão gratuito de Deus, não pressupõe a indiferença de Deus diante do pecado. Pelo contrário, Deus é santo, e o pecado lhe causa repugnância. O cristão é, ao mesmo tempo, justo e pecador. Ele não deixa de ser pecador quando é justificado. Pelo contrário, quem recebe a justificação pela fé descobre, em si mesmo, o quanto é pecador, e não por ser justificado é que deixa de pecar.  Finalmente, a justificação não é ausência do pecado, mas o fato de que Deus nos declara justos ainda que em meio ao nosso pecado. Esta é a verdade da justificação pela fé; e contra esta verdade, e acima dela, pairava o ensino da igreja romana que o homem pode alcançar a salvação pelas obras. Nessa época, Lutero ainda não tinha percebido que sua grande descoberta se opunha a todo o sistema de penitências da Igreja Católica.


 


Algumas das 95 teses:

O certo é que o papa deveria dar o seu próprio dinheiro aos pobres de quem os vendedores de indulgências tiravam, mesmo que para isso tivesse que vender a Basílica de São Pedro.  (tese 51)

São inimigos de Cristo e do Papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a palavra de Deus nas demais igrejas. (tese 53)

Segundo Lutero, se era verdade que o papa tinha poderes para tirar uma alma do purgatório, ele tinha que utilizar esse poder, não por razões triviais como a necessidade de fundos para construir uma igreja, mas simplesmente por amor, e assim fazê-lo gratuitamente (tese 82).

Portanto, os tesouros do Evangelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas. (tese 65)

Qualquer cristão que está verdadeiramente contrito tem remissão plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência. (tese 36)

(Adaptado da obra do Pb. José Roberto Costanza, professor no Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro)

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