Reaprendendo a voar

Jornal O Norte
07/11/2005 às 09:56.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:54

Daura Carvalho *

Muitos imaginam que ser independente é estar livre para fazer o que quero, na hora que quero e como bem entendo, sem me preocupar com as conseqüências dos meus atos. E sem me preocupar com os efeitos dos meus atos sobre as outras pessoas e com as situações que crio a partir dessa minha atitude. Essa independência sempre vem atrelada aos sentimentos de arrependimento pelos exageros que cometo, sentimentos de raiva, de ganância, de arrogância, de intolerância ou de apego. Agindo assim é como o feitiço que se volta contra o feiticeiro.

A escravidão não é uma corda que me prende, mas são os vícios espirituais que me aprisionam. É como se eu vivesse numa prisão portátil que carrego para todos os lugares aonde vou. Eu perco a minha liberdade quando estou com raiva, com impaciência, com ciúmes, com inveja de alguém. Eu perco a minha liberdade quando estou fora do meu ponto de equilíbrio no meu estado de serenidade e paz.

Ser independente e livre significa que, apesar de quaisquer situações, de quaisquer circunstâncias, eu permaneço pacífico, feliz, equilibrado, contente.

Quando olhamos os pássaros voando, sentimos saudade do estado de vôo que uma vez conhecemos. Se me sinto infeliz é porque estou preso e são as minhas atitudes mentais que me aprisionam. Um detento de uma prisão qualquer pode ser mais livre do que aquele cidadão que anda pelas ruas da cidade carregando o peso da desesperança, da dúvida e da preocupação, preso, acorrentado ao seu próprio estado mental. Liberdade e independência são um estado de espírito. Sou prisioneiro das fraquezas, do desânimo, da preguiça, da falta de determinação, da desconfiança.

Minhas asas foram cortadas por pensamentos, palavras e ações que exerci contra minha verdade intrínseca, contra a paz, o poder e o amor que residem em mim no meu estado natural. Com cuidado, preciso restaurar essas asas e então planejar meu primeiro vôo de agora, que é também o meu mais antigo vôo. Preciso reaprender a voar da mesma forma que fazia quando no meu estado de plenitude.

Para me libertar de verdade, a verdade, a compreensão, a pureza, a misericórdia, a bem-aventurança devem preencher, permanentemente, a minha atitude.

Ser independente, ser livre é reaprender os caminhos da obediência, da disciplina, da alegria inocente, do amor altruísta. E desta forma o meu vôo será sustentado e posso voar tão alto quanto queira – livre e independente.

* Jornalista

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