Rapa do tacho

Jornal O Norte
Publicado em 05/05/2010 às 10:01.Atualizado em 15/11/2021 às 06:28.

José Wilson Santos


zewilsonsantos@hotmail.com



Não é que a essa altura do campeonato — aos trocentos anos —, estando caminhando a passos largos pra virar o cabo da boa esperança, o Degas aqui descobre que deu uma baita raspada no tacho e está prestes a estrear como pai de dois filhos (ou um casal, ainda não deu para ver) três aninhos e tanto mais novos que minha neta mais nova?



E que ainda assim Melancia, ligeiramente grávida de gêmeos, marca mais cerrado que o zagueirão Júnior Baiano, checando, inclusive, diariamente e todo dia, se no horário previsto eu dou o ar da graça no Bar do Vô, ou quá?



É ou não é pra estar mais feliz que pinto no lixo?



Mas por trás desta alegria plenamente justificada, há um misto de tristeza, fruto das incertezas inerentes ao pai que, mesmo a contragosto, sabe que poderá não estar presente no futuro de longo prazo destes filhos temporões, por limitação inapelável de tempo.



E o mundo anda muito doido, meu rei, não permitindo antever se o tal futuro será, assim,  digamos, uma bela de uma Brastemp.



Resfria-se com nevascas dantes nunca vistas e ferve com um calor infernal nos extremos; é varrido por tornados e furacões e inundado por aguaceiros sem fim, enquanto treme feito vara verde em terremotos de escalas cada vez maiores, matando mais que Baygon.



Quando penso nisso sinto uma certa culpa pela produção dos bichinhos. Mas, aí, fico com o lado bom da coisa: quem sabe o Degas aqui não colabora pacas pra colocar no mundo mais duas ilustres figuras, que contribuam para mudar esse estado de coisa?



Tudo é possível, né não, indio velho?



Por isso vou aproveitar meu resto de tempo para imprimir no DNA  dos rebentos os velhos e bons valores éticos e morais, tão em baixa nesses tempos modernos, em que a força da grana ergue individualidades inúteis e destrói coisas belas.



Vou ensiná-los, tipo assim, que o melhor trem do mundo é ser feliz – o que, via de regra, custa quase nada.



Daí porque não carecemos de ganhar todo o dinheiro do mundo, muito menos a qualquer custo, para desfrutarmos dessa sensação gostosa, que faz valer a pena irmos ficando por aqui.



E mais: que é muito mais melhor de bom ser feliz num mundo bonito, bacana, respeitado, bem cuidado, com a autoestima lá no céu.



Mostrarei aos pimpolhos - assim como mostrei aos outros - que não há nada de errado em ter uma vida confortável, com provisões de segurança para enfrentar tempos bicudos que nunca deixam de pintar. Errado é acumular para ostentar.



O homem faz o dinheiro, mas o dinheiro não faz um homem.



Quando sobem para o andar de cima, as pessoas são lembradas (ou esquecidas de vez) pelo que foram, não pela grana que juntaram.



Incutirei neles a temência a Deus e o respeito aos mais velhos, às instituições e principalmente a si mesmos. E os ensinarei que, ao contrário do que anda tão institucionalizado, os nomes recebidos na pia batismal devem permanecer imaculados. Não precisamos que nos digam, principalmente a polícia e a justiça, o que é certo e o que é errado. 



Vou estimulá-los a viverem como se fossem as únicas pessoas no mundo com a obrigação de fazer tudo corretamente.



Mas, se por alguma razão eu não puder lhes dizer tudo isso pessoalmente, minhas raspinhas do tacho, posto que não sei como será daqui a 60 segundos, deixo os ensinamentos por escrito neste minifúndio de papel de O NORTE.



Falei e disse?

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