Marcelo Valmor Paculdino Ferreira (*)
Sob a capa mal disfarçada das supostas dificuldades de convivência da presidente Dilma Rousseff (PT) com o PMDB ao nível nacional, a seção mineira do partido acaba de romper a aliança de oposição firmada com o PT, e cai nos braços do governo do estado.
O deputado estadual Antônio Júlio (PMDB) foi o interlocutor com a imprensa sobre os motivos de tal afastamento. Enumerou vários deles, entre os quais podemos destacar a suposta reedição da aliança PT/PSDB/PSB para as eleições à prefeitura municipal de Belo Horizonte; o fato do PT não fazer questão de citar o PMDB em conversas e acordos firmados tanto em âmbito municipal quanto federal; e, por último, creditou ao Palácio da Liberdade uma mínima dose de influência para o rompimento do bloco de oposição batizado com nome muito mais de movimento da sociedade civil do que de bloco político, o chamado Minas Sem Censura.
Desses argumentos apresentados pelo PMDB, exaustivamente explicados pelo deputado Antônio Júlio, há que se fazer determinadas considerações. A primeira diz respeito a suposta reedição da aliança para a prefeitura da capital mineira. Romper com um bloco diante de uma possibilidade não combina com a prática política, ainda mais em terras onde a paciência é a virtude maior que acompanha esse campo. Afinal, estamos há treze meses do processo eleitoral, tempo mais do que suficiente para amarrar acordos e rever compromissos.
Outro argumento apresentado seria uma certa vergonha do PT em apresentar o PMDB como seu parceiro preferencial em Minas Gerais. Ora, sabemos que os dois grupos nunca foram de freqüentar o mesmo espaço do cafezinho, daí nenhuma novidade em admitir que essa aliança em âmbito estadual atendia muito mais a uma orientação nacional do que a interesses locais. Foi longe demais.
Por fim, tentou dar ao governador influência mínima no processo de cooptação de suas lideranças, ao admitir que o Palácio interferiu muito pouco diante deste quadro de insatisfação que marcava a relação com o partido da presidente Dilma.
Ora, não é necessário dizer que política nacional sempre foi um arremedo das conveniências estaduais, essas sim fontes de todo poder federal, daí essa autonomia do PMDB mineiro em relação à orientação da executiva nacional. E essa autonomia reivindicada tem nome, sobrenome, endereço, CPF e identidade: o processo eleitoral de 2012.
Nesse sentido, o governo do estado tem mais garantias a dar nas eleições para as prefeituras em outubro de 2012. Aliado a isso, soma-se a fragilização do PT mineiro diante do governo Dilma. Com a indicação de Fernando Pimentel (PT), ex-prefeito de Belo Horizonte para o Ministério do Desenvolvimento, e sem muitas chances de emplacar nomes nos vários órgãos públicos federais, os peemedebistas estão, - diante do tempo que não pára -, angustiados com o processo eleitoral ano que vem. Afinal, é o partido mais organizado do estado, com plasticidade suficiente para estabelecer acordos que lhe possa garantir um desempenho mais do que razoável nas eleições municipais ano que vem. Vem, daí, a necessária solteirice para que se busque o melhor noivo.
O impacto disso em Montes Claros é evidente. Se não ajuda a trazer verbas para os babilônicos problemas que temos por aqui, pelo menos ajuda a minimizar o peso político que o governador Anastasia (PSDB) terá no processo eleitoral, ao admitir, no quadro de apoio ao governo do PSDB o deputado norte mineiro Tadeu Filho (PMDB).
De qualquer forma, duas conclusões podem ser observadas. A primeira é que o projeto petista para o estado ficará restrito a capital mineira, enquanto que a segunda é que o PMDB continuará dando as cartas no interior.
Nada diferente no quadro que enxergávamos antes, e que tem no Palácio da Liberdade o seu principal fiador.
(*) Professor e jornalista