Cinara Dreide
Repórter
dreide@onorte.net
Algumas crianças demonstram atitudes de adultos e este comportamento merece avaliação médica. Em boa parte do mundo existe uma pressão social para que a criança passe rapidamente da infância a pré-adolescência. Isso ocorre a partir de atitudes simples, que vão desde a forma de se vestir até ao abandono de determinadas brincadeiras, como, por exemplo, nos casos das meninas, brincar de boneca.
Não é raro nos dias de hoje nos depararmos com meninas de até nove anos usando salto alto, batons extravagantes, unhas pintadas com cores chocantes e falando de namorado.
Os meninos também costumam usar roupas que os deixam mais velhos, mais boyzinhos. As constatações são da Associação brasileira de psicopedagogia.
Segundo a psicóloga Susy Camacho, embora inocentes, estas mudanças interferem diretamente na aprendizagem, sendo importantes indicativos de que algo começa a sair errado.
Para a psicóloga, quando estes sinais de amadurecimento precoce surgem, é importante notar que eles ocorrem mediante a falta de respeito em relação às fases naturais da criança. Principalmente as que acontecem entre os sete e os doze anos, num período conhecido por latência. Nesta etapa, a criança deixa de se importar com as mudanças do corpo e passa a se interessar mais pelo conhecimento mental.
- Este é o momento em que a criança passa do período pré-lógico para o lógico. É o instante em que se adquire todas as condições para o aprendizado - diz a psicóloga.
A especialista adverte que se neste momento, por qualquer motivo, existir a imposição de uma mudança, onde a criança seja forçada a se preocupar novamente com o corpo, voltando a fase pré-lógica, é certo que haverá um retrocesso no desenvolvimento.
- Quando isto ocorre, a criança vive uma falsa adolescência, reclama muito, fica nervosa e se veste de uma forma não apropriada para a idade - esclarece Susy.
Esta pressão, que muitos entendem como amadurecimento precoce, é normalmente influenciada pela televisão, que costuma criar o estereotipo onde todos devem ser magros, as mulheres têm de ousar nas roupas e os homens precisam ser belos e fortes.
PADRÃO ERRADO
Este padrão de beleza não deve ser empurrado para as crianças, mesmo reconhecendo que atualmente elas imitam este perfil cada vez mais.
Outro tipo de amadurecimento traumático que existe é o de ordem emocional. Neste caso, a transformação ocorre devido a um grande trauma provocado, por exemplo, pela perda dos pais, pobreza extrema, doenças e outras situações difíceis.
Em alguns episódios a criança se comporta como adulto, chegando até a tomar conta dos pais. Quando isto acontece dá a impressão de que a criança pulou da fase infantil para a adulta.
É preciso fazer com que os pais respeitem o direito que a criança tem de brincar, pois se não há brincadeiras ou fantasias, não pode haver o preparo do cérebro para a aprendizagem.
- Até os sete anos a criança tem de se socializar brincando com os outros e também sozinha. O importante é que os pequeninos sejam vistos com responsabilidades e deveres, e não como um ser vivo em miniatura – acrescenta a psicóloga.
MATURIDADE PRECOCE
Quem pode imaginar que por trás desta maturidade fora de tempo a criança possa estar escondendo sintomas de depressão? O principal fator que leva uma criança à depressão é o estresse.
Assim como os adultos, as crianças também possuem um limite para suportar a pressão provocada diante de uma situação nova. Hoje é comum que crianças de classe média alta comecem a ler e a escrever em torno dos quatro ou cinco anos.
O fato provoca uma situação estressante porque elas não possuem a área do cérebro desenvolvida exatamente para se fazer tarefas. Além disso, quando elas não conseguem alcançar estes objetivos ficam bastante angustiadas.
De acordo com a psiquiatra Lindiane Freitas, outro aspecto que tem colaborado para o aumento deste quadro é a falta de espaço para brincadeiras (parques, praças, áreas de lazer). Como saber se a criança está deprimida?
Os sintomas são mais corporais, podendo ser notados quando a criança fica muito parada ou mais agitada, ou se ainda apresenta uma mudança repentina de apetite. Constantes reclamações de dores de cabeça ou de barriga, para as quais os médicos não encontram motivo, também podem ser indicativos. Outro fator é que nos meninos, vêm com a agressividade, enquanto nas meninas a tendência é que se mantenham mais quietas.
COMPORTAMENTO DE RISCO
A psiquiatra diz que se tais sintomas permanecerem por mais de três meses consecutivos o quadro de depressão é quase certo, sendo necessário o tratamento. Isto acontece de várias maneiras.
A primeira é detectando o quanto antes quais fatores estão interferindo na vida da criança, como a rigidez da escola ou a falta de estruturação da família. O auxílio deve ser acompanhado de atividades físicas e lúdicas. Se mesmo assim o quadro não for revertido, será necessária a administração de medicamentos.
Segundo a especialista, meninas que atingem a maturidade sem estarem devidamente preparadas têm maior probabilidade de ter o chamado comportamento de risco sexual, onde uma das características é a não utilização de preservativos. Outra questão, vista com freqüência, é que elas costumam ser vítimas de abuso sexual.
Estas ações são acentuadas quando o desenvolvimento físico é maior do que o psicológico. A psiquiatra destaca que a questão provoca uma grande preocupação entre os profissionais, particularmente entre aqueles que trabalham com adolescentes, pois se trata de uma situação que dificilmente é revelada a tempo de evitar maiores transtornos.