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PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO - TEMPERANÇA (a hora da forja) - por Leila Silveira

Jornal O Norte
Publicado em 09/02/2008 às 09:35.Atualizado em 15/11/2021 às 07:24.

· Todos nós sabemos a necessidade de “esquentar” bem o ferro para conformá-lo, para moldá-lo, imprimir-lhe a dureza e a forma necessária.



Desde os tempos dos antigos samurais e do “velho oeste”, forjar o ferro, temperar o aço, já eram habilidades comprovadas e valorizadas seja para garantir o corte da espada, seja proteger o trote marcado dos cavalos na aridez do deserto.



Trabalhar o ferro, aquecer o aço, martelá-lo, deformá-lo, submetê-lo aos mais variados esforços nas mais altas temperaturas, ao invés de enfraquecê-lo e tirar lhe as forças, acabam ao contrário é por enrijecê-lo ainda mais quando de volta às condições normais de uso.



Esse “castigo” soa como um exercício em condições extremas, na qual o material sofre toda a forma de “violência”, toda a forma de “agressão” submetido as mais temidas provas, antes de ser finalmente lapidado pelo seu mestre-ferreiro.



É como se, após passados por todos estes testes massacrantes estivesse então apto a enfrentar qualquer desafio posterior nas mil e uma aplicações e situações em que será solicitado.



Uso este relato para tratar de um assunto da maior importância para todos nós: a temperança ou como é chamada atualmente: resiliência.



Neste mundo atual de muita “mídia”, muito “marketing”, no qual a embalagem é cada vez mais valorizada em detrimento muitas vezes do conteúdo, nesta era dos descartáveis, dos “instantâneos”, do “fast-food”, esta qualidade tem sido cada vez menos cultivada.



É claro que numa sociedade onde os valores éticos, morais, sociais que nortearam as grandes revoluções e transformações, onde o heroísmo, a solidariedade, a honestidade, a justiça, a bravura eram matérias-primas dos grandes mortos, estão agora não só relegados a 2º plano, como até classificados como tolice, ingenuidade, despreparo ou romantismo ultrapassado e fora da realidade, quando não motivo de chacota e desprezo de muitos.



Esse alinhamento atual, em torno apenas do que é “fashion”, do que dá mais prazer imediato, da permissividade, do “parecer” mais do que ”ser”, da extremada valorização da matéria e do reinado do dinheiro, tem afastado cada vez mais nossos jovens da senda espiritual, das sagas sociais e preocupações humanitárias que sempre moveram grandes conquistas, grandes personalidades, grandes amores.



Com esta cultura do supérfluo, do comodismo, do “se dar bem sempre”, da “esperteza”, estamos ficando cada vez menos preparados para enfrentar as “armadilhas” que o destino nos reserva, as dificuldades que vez por outra permeiam nossa existência, os problemas e desafios que com certeza viemos enfrentar neste mundo.



O que se nota é a irritabilidade, a frustração, o desespero cada vez mais precoces ante qualquer obstáculo, ante qualquer insatisfação.



Nossa impaciência crescente reflete nossa intolerância a qualquer negativa por menor que seja, nossa revolta ante qualquer desejo desfeito nossa tristeza diante dos pequenos castelos caídos na areia de nossas frágeis ilusões.



Temperança é a combinação forjada da “têmpora” com a “esperança”, ou seja, é uma qualidade trabalhada com muito suor e dedicação, é uma virtude obtida após grandes esforços e provações.



Não é uma “iguaria” que se encontra pronta na gôndola do supermercado, ao contrário tem que ser cultivada e adornada com muita paciência e cuidado... Seu sabor, no entanto é insuperável!



Não é uma receita pronta para se tornar um profissional “politicamente correto”, não é uma solução milagrosa... Não é uma certeza “cega” da verdade fanatizada, nem promessas de sucesso facilitado, mas o resultado de um longo e persistente exercício diário de aceitação, das adversidades de uma luta heróica na manutenção do equilíbrio, do árduo combate contra as posturas pessimistas, uma batalha diária na caça da alegria, como um como um incansável e persistente colecionador de borboletas.



A temperança só começa a se cristalizar em nossa alma, quando abrimos a janela ao amanhecer e decidimos que aquele será um bom dia mesmo contra as adversidades contrarias em nosso dia-a-dia.



É um sorriso autêntico, é um olhar verdadeiro, é uma postura digna, é um gesto solitário, uma alegria contagiante, um abraço generoso, é calma no decidir, prudência no agir, cuidado no falar...



Esta áurea de autoconfiança, este despertar da consciência plena, este magnetismo do autoconhecimento são marcas registradas de quem “acalmou mares”, “domou feras” e “venceu demônios”.



É uma aventura fantástica, uma viagem corajosa, uma “prova dos nove”, mas que ao seu final nos reserva mesmo em meio do profundo caos, um oásis de serenidade, confiança e paz de espírito.  

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