Psicologia e Comportamento: O papel do teatro nas empresas - por Leila Silveira

Jornal O Norte
Publicado em 26/10/2007 às 17:33.Atualizado em 15/11/2021 às 08:21.

Leila Silveira *



Está na moda o chamado teatro “corporativo”, já aceito e inserido como uma das mais modernas e recentes ferramentas do RH na sua missão dentro das empresas, cada vez mais abrangente, integrada e responsável.



Como qualquer outra ferramenta de impacto, sua eficácia só se revela proeminente se devidamente “encaixada” e adaptada à cultura da Empresa, e antenada e direcionada para as mudanças em andamento.



É importante que as mensagens estejam em sintonia com as linhas gerenciais, que a linguagem seja bem entendida sem deixar ambigüidades e que os propósitos sejam claros.



Parece simples, mas não é fácil.



Uma iniciativa desse tipo, por melhor e mais criativa que seja, se não contar com o envolvimento das chefias operacionais está não só fadado ao fracasso, como podendo se tornar um “gatilho” inconveniente a detonar “fofocas”, mal-entendidas e interpretações equivocadas, enfraquecendo valores importantes da história da empresa.



Mas o motivo de abordar o assunto na realidade seria o de tentar entender o porque a teatralização de papéis incomoda tanto, comunica tanto, sensibiliza tanto...



Para entender a profundidade psicológica do assunto é necessário entender a própria história e fundamentos do teatro.



Seja na dramaturgia, na comédia ou qualquer outro gênero o teatro é um das expressões mais fortes da arte por lidar com a mais importante das faculdades humanas: a emoção!



É fácil, portanto entender o porque o teatro está na moda “corporativa”... Sabemos que nada no momento está mais na moda do que a emoção...



A ciência, o ser humano, os pais, as escolas, as comunidades, os políticos e agora as empresas estão re-descobrindo o valor da emoção.



Se lançarmos um olhar pedagógico para a criançada de hoje, vamos ver que, ao contrário das crianças do século passado, dispõe hoje de tudo que precisam para comunicar (computador), brincar (eletrônicos) e interagir e entreter (TV, vídeos, Internet).



Em termos lógicos poucos têm, humanamente falando, a acrescentar e a contribuir na formação dos mesmos, sendo inclusive, este um dos motivos da crise escolar, já que o professor vem perdendo importância na medida que já não é mais a única (ou a melhor) fonte de informação. Ensino a distancia, são a maior prova do que estamos falando...



Nas empresas, ocorre processo semelhante...Com a globalização (competição desenfreada) e necessidade de redução drástica de custo a todo preço, com a evolução tecnológica e os processos de “downsizing” (redução dos níveis hierárquicos) nas empresas, o que se percebe é uma ”padronização” das operações, eliminando postos de trabalho, reduzindo a necessidade de múltiplas chefias e evidentemente reduzindo também os graus de liberdade e possibilidades de erros por parte dos colaboradores envolvidos.



A mesma tendência é claro se estende aos demais setores produtivos, de serviços, agro-negócio,  turismo, etc.



As empresas necessitam cada vez mais de pessoas tecnicamente capazes de interagir de forma solitária e independente com computadores, robôs e todo o universo virtual.



Por tudo que brevemente já expomos já dá para perceber onde está o “calcanhar-de-aquiles” desta nova configuração, deste nono modelo produtivo, deste novo layout pedagógico.



É lógico que o “ponto-fraco” do sistema, o elo mais vulnerável desta cadeia reside-se no âmbito emocional desses atores, tecnicamente muito competentes, mas inteiramente susceptíveis a colapsos de natureza mental e psicológica.



E é justamente para trabalhar esse lado meio esquecido do sistema, conhecer essa região muitas vezes sombria e obscura e desenvolver o nosso lado “direito” da mente que o teatro está aterrisando com toda a forma nas pistas empresariais, por ser reconhecidamente uma das manifestações artísticas mais profundas neste particular.



Portanto, abri-se um novo palco, e uma nova platéia para a dramaturgia nacional, com missão “engajada” na nova realidade do século 21, cujo maior desafio é aprender a lidar com os fatores emocionais tão bem quanto aprendeu a resolver as questões tecnológicas.



Quem viver verá!



* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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