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Domingo,12 de Janeiro

Psicologia e Comportamento: Esperança - por Leila Silveira Miranda

Jornal O Norte
Publicado em 22/04/2008 às 10:11.Atualizado em 15/11/2021 às 07:30.

Leila Silveira Miranda


leilaasilveira@bol.com.br



- Quando tudo esta perdido, sempre existe um caminho quando tudo está... - Renato Russo.



É dito e repetido nas resenhas literárias que a palavra mais bonita do nosso idioma é ‘saudade’. Decantada em prosa e verso, seu maior ‘cacife’ é a de não ter equivalente em nenhuma outra língua.



Saudade à parte, a palavra que mais me comove e motiva no nosso bom português e principalmente no fundo do meu coração chama-se esperança. Esta historia de amor começou já adulta quando assistindo a um paciente, já como psicóloga clinica,  ouvi-o discorrer sobre o dia mais emblemático e profundo de sua vida, o dia mais marcante de sua existência, o dia em que começou a encontrar-se com si mesmo e seus verdadeiros sentimentos e sofrimentos.



Segundo ele, aconteceu no dia em que perplexo escutou de uma terapeuta que ele padecia de uma depressão, claramente diagnosticada numa bateria de testes que realizara durante um treinamento gerencial para os jovens executivos ( como ele ) de sua empresa. Seu susto, acredito, foi maior por ter sido ‘descoberto’ por ter sido ‘desmascarado’, de  que propriamente pela noticia em si. Acho que embora tenha se manifestado surpreso, no fundo já conhecia muito bem o seu mal...



Por alga razão, vergonha, ou orgulho, pela sua historia de vida, pelo seu perfeccionismo, pela sua imensa vontade de agradar aos outros pelo “estereótipo” que criou em torno de si e de sua carreira, pelo medo que sentia havia criado uma barreira psicológica que ele impedia de aceitar e enxergar a si mesmo e sua doença. 



Foi preciso que alguém que muito respeitava, incontestamente competente, coloca-se diante dele a próprio espelho, a verdadeira imagem que recusava ver e que conscientemente ou não procurava despistar, mascarar, disfarçar com um otimismo fabricado com um “sorriso alvar”  sem nenhuma alegria interior.



Segundo ainda ele foi que tinha tudo para ser o pior dia da sua vida que deparou com outra palavra também pronunciada pela psicóloga que funcionou como contraponto ao diagnostico e que soou como um bálsamo em sua alma, trazendo um alivio que há anos buscava, tirando um peso de suas costas que há anos teimosa e ridiculamente insistia em carregar como uma condenação perpetua. Foi nesse dia que aprendeu o significado de esperança, palavra que desconhecia de significado a não ser pelo seu aspecto literário, poético ou trivial. Como sempre gosto de refletir a respeito, como sempre encarei este atendimento, o que existe de mais importante e a troca, o aprendizado o crescimento que ocorre não só do paciente, mas também do profissional que aparentemente só esta ali para ouvir as mazelas do primeiro.



A partir deste dia passei a prestar mais atenção a este vocábulo tão expressivo e harmonioso, e de lá pra cá o tenho pesquisado bastante analisado meticulosamente em todas as suas nuances e confesso acabou virando mesmo um lindo caso de amor. O verbo “esperar” já é em si bonito, demonstrava uma atitude madura pacifica, mas por demais passiva e contemplativa.



A magia da palavra esperança que para mim mistura o verbo “esperar” (passivo, resignado, contemplativo, adulto, maduro) com a palavra “criança” que representa movimento, alegria, convicção, brincadeira, pureza e muita, energia interior!  Toda criança espera muito, quer muito, deseja muito, e é por natureza impaciente no exercício do prazer, na autenticidade de  propósitos, na alegria incontida e seu reservas, no viver o presente, na incontrolável entusiasmo do aqui e agora. A criança não se deprima porque expressa sem medo e receios suas emoções, seja através do choro ou do riso, da birra ou do aplaudir. Aprendi com o tempo e muito refletir que é traiçoeira cruel e destrutiva mordaça com que encaramos nossa “criança interior” a razão principal de nossas maiores males emocionais, a origem de todas as nossas doenças da alma, de nossas crises existenciais, de nossa tristeza persistente batizada psicologamente como depressão, o mal do século XVI.



Esperança para mim então, mais do que seu inequívoco valor poético, romântico e literário tem um significado maior, mais profundo, mais ardoroso, mais presente em nosso dia-a-dia em nossa eterna busca pela felicidade. Ela é mais que um sentimento ou estado de espírito. Deve ser uma filosofia de vida, um exercício diário, em programa existencial uma referência e um instrumento dinâmico para uma melhor qualidade de vida interior. Ela repousa nos pilares da maturidade, da tolerância da paciência, da consciência de que somos humanos e, portanto imperfeitos e sujeitos a tropeço, erros que das perdas.



Mas ao mesmo tempo nos revela nos incentiva, nos “re-liga” ao divino que mora em nós, a criança que carregamos no peito, e nos enche de coragem ao repetir o gesto bíblico de sacudir – o – pó – das – sandálias e procurar um outro pouso mais seguro e tranqüilo, que no fundo acreditamos poder encontrar. Ela nos dá ânimo quando paralisados, ela nos conforta quando entristecidos ela nos inspira quando obscurecidos. É a luz nas sombras e a paz no desespero é raiz na aridez, é o alivio no sofrimento, é saída da perdição é o pulsar da vida espantando a morte!

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