Leila Silveira Miranda *
Tarefa das mais difíceis foi-me atribuída ao atender a solicitação do leitor Gilson Pereira, especialmente quando na visão dele estamos atravessando um peculiar avanço do que ele próprio autodenomina de “ética da conveniência” , que traduzindo em poucas palavras, significaria aquela postura “esperta” de “se dar sempre bem” , optando sempre por aquele ou aquilo que lhe trouxer a melhor vantagem pessoal.
Tratar sobre ética nos remonta obrigatoriamente à Antiguidade, mais propriamente aos nossos altivos antepassados gregos (único povo que não se ajoelhava para rezar aos seus múltiplos deuses).Com certeza foi a civilização mais empenhada na busca da liberdade no seu espectro mais amplo (material, filosófico, teológico, político, cultural e espiritual).
Dessa busca nasceu às primeiras tentativas de codificação ética , defendidas por Sócrates e formuladas por Platão textualmente. A introspecção é a característica da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude.
De lá para cá , passando pelas geniais contribuições do Iluminismo europeu de Kant entre outros, muita coisa mudou, principalmente após a Revolução Industrial do século passado , que mudou a rota da historia.
Em uma transação entre duas pessoas, seja profissional, afetiva ou financeira, podem ocorrer às situações básicas: as duas ganham, uma ganha e outra perde e uma ganha e outra não perde.
Do ponto de vista humanístico, a transação ideal é aquela em que todos ganham.
Hoje inseridos em um patamar econômico e social ainda mais complexos, meio atônitos com a velocidade das transformações sócio/cultural/econômica, é notória as transformações por que também passam os conceitos e costumes éticos, na tentativa de acompanhar e se adequar aos novos tempos.
O que temos que entender, porém, é, (em qualquer época da historia que analisemos, com qualquer uma das civilizações estudadas), o caráter quase imutável dos valores éticos, sua ligação quase transcendental com tudo o que é de mais sagrado e divino para a natureza humana, contemplando os seus aspectos mais superiores , mais altruístas.
Ética pois, jamais combina com estas posturas recentes , inauguradas a partir dos anos 80 com a famosa “Lei de Gerson : de se levar vantagem em tudo”, e que vem pavimentando os ideários de uma grande maioria de pessoas. Ao contrário, são as essências da anti-ética , pois estão a serviço de ideais egoístas e ancoradas exclusivamente no plano material.
A “ética do lucro” vem implantando valor de mercadorias a todas as coisas, consolidando os processos de “coisificação” nas relações humanas.
Mas podemos e devemos fazer nossas escolhas. Embora concorde com nosso leitor que infelizmente o “puxa saquismo”, a “trairagem”, a “puxada de tapete” , estão em moda tanto na TV quantos no nosso dia a dia de trabalho, reafirmo que estas “armações” jamais podem ser cunhadas como qualquer forma de ética, embora estejam sim a serviço da conveniência de poucos em detrimento de muitos.
Como a família , a Igreja e o Estado têm hoje dificuldade em preencher este espaço natural que sempre exerceu no passado, estão surgindo iniciativas dentro das próprias empresas que se ressentem desta ausência e inversão de valores , que ameaçam sua missão, sua responsabilidade social, sua competitividade e até sua sobrevivência.
Questões como a concorrência, a “pirataria”, a discriminação racial, o abuso de autoridade, os assédios, o namoro funcional, o uso da Internet , o meio ambiente, o desperdício, são hoje objetos de estudo e tentativas de regulamentação internas , ainda que a passos de tartaruga
O que podemos sonhar para o futuro e para animar nossos atentos leitores, é que esses “alpinistas” de plantão estão com seus dias contados nas futuras e modernas Organizações, e de certa forma gradualmente reciclados ou excluídos do mercado que gradualmente vem se preparando para criar antídotos para o combate a estes verdadeiros fraudadores da nossa inexpugnável ética.
QUEM VIVER VERÁ!!!
Obrigada pela sua participação.
* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte
leilasilveira@bol.com.br