Professora: uma invenção de Deus! - por Dário Teixeira Cotrim

Jornal O Norte
Publicado em 19/10/2007 às 11:08.Atualizado em 15/11/2021 às 08:20.

Dário Teixeira Cotrim *


 


Fiquei estarrecido com a notícia de hoje: Professora acusada de cometer discriminação em sala da aula. Será? Eu lecionei oito anos e abandonei a sala de aula por falta de direitos. Para os professores somente há deveres. O dever de preparar bem as aulas; o dever de chegar no horário marcado para o inicio das aulas; o dever de tratar os alunos como se fossem os seus próprios filhos; o dever de não chorar, de não adoecer e de não reclamar. O dever de aceitar desaforos e más-criações. Para os alunos todos os direitos: o direito de matar aulas; o direito de reclamar da escola e também de reclamar da professora; o direito de depredar o patrimônio escolar; o direito de maltratar as pessoas de bem e muitas vezes o direito de levar arma de fogo para dentro da sala de aula. Aliás, além de todos esses direitos ainda tem o direito de inventar. Inventa que a professora lhe maltratou; inventa que o colega lhe bateu; inventa que o porteiro lhe proibiu de entrar depois ter chegado atrasado na escola; inventa que a arma é de brinquedo. Ah, como esses garotos são criativos!



Na reportagem de O NORTE registrou-se o seguinte: “Representando a professora, o diretor da escola Felício Pereira de Araújo, (...) reconhece que aconteceu um incidente, mas negou os dizeres mencionados pelo denunciante. Por outro lado, salienta que a professora foi advertida por escrito e que, pelo incidente ocorrido, a professora já pediu desculpas ao estudante”. Aqui há um erro gravíssimo de interpretação: o aluno é que deveria ser punido e os seus pais são os que deveriam pedir desculpas à professora. Afinal, nenhuma professora é obrigada aceitar imposições de alunos malcriados e mal-educados. E, por outro lado, in dubio pro reo.



Na verdade o que falta é uma boa educação iniciada ainda no berço. Os pais priorizam festas sociais, viagens com amigos, tardes inesquecíveis à mesa de bar, encontros casuais e até proibidos, trabalhos que lhes absorvem uma parte considerável do tempo. Enquanto isso, os seus filhos ao deus-dará vão acumulando aprendizados incompatíveis com a escola e com a comunidade em que vive.



O mal-afamado Estatuto da Criança e do Menor Adolescente apenas existe para direcionar os meninos ao mundo do crime organizado. Hoje, mais de 60% dos crimes praticados em nossa sociedade são de responsabilidade de menores. Condenar a atitude, às vezes bruscas, de uma professora é tão somente incentivar os seus alunos – de 15 anos – a praticarem atos ilícitos contra a sua escola, os seus colegas e a sua comunidade. Oxalá, que de futuro esses alunos não sejam os donos do mundo-cão! Hoje os delinqüentes menores sabem que nunca vão presos por praticarem crimes contra as pessoas e contra o patrimônio da sociedade em virtude das leis que lhes protegem.



Em todas as situações as professoras merecem respeito e aplausos. Os valores nunca podem ser invertidos como querem alguns pais de alunos e os inócuos representantes dos Direitos Humanos. Nunca, nenhum bom aluno receberia reprimenda de sua professora sem motivo aparente. Acontece que os pais desconhecem os malfeitos de seus filhos, para eles são todos uns anjinhos, puros e sabedores de suas tarefas para casa e para um mundo competitivo de valores morais. Ledo engano!



Certamente que a Palmatória hoje lhes faz falta, que o castigo para os maus alunos também faz. Mas, com este abusado Estatuto da Criança e do Adolescente, logo chegará o dia em as crianças já nascerão, não mais chorando, senão bronqueando com todos os de casa. Deus na sua sabedoria, entendendo que não tinha condições de orientar todas as crianças para o caminho do bem, inventou a professora. O ilustre compositor, Ataulfo Alves, por sua vez homenageou as distintas professoras com está belíssima canção: Meus tempos de criança. Quem não a conhece?


 


Meus tempos de criança


  


Eu daria tudo que tivesse


Pra voltar aos dias de criança


Eu não sei pra que a gente cresce


Se não sai da gente essa lembrança


Aos domingos, missa na matriz,


Da cidadezinha onde eu nasci


Ai meu deus, eu era tão feliz,


No meu pequenino Miraí.


Que saudade da professorinha


Que me ensinou o bê-a-bá


Onde andará Mariazinha,


Meu primeiro amor, onde andará?


Eu igual a toda meninada,


Quanta travessura eu fazia


Jogo de botões sobre a calçada,


Eu era feliz e não sabia!



  


Prezada professora Ana Maria Gontijo, certamente que a história contada até então não será a verdadeira. Caso contrário, somente você é que pode aquilatar os motivos que os levara a proceder de tal forma. Entretanto, a versão correta dos fatos talvez não venha interessar aos pais desses alunos, mas quero que aceite a minha solidariedade, de pai e de mestre, porque também fui vítima de alunos violentos, agressivos e muitos deles sem nenhuma orientação familiar.



* Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e de Montes Claros e da Academia Montes-clarense de Letras

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