Fim de um ano, início de outro. Em posse de tamanha ansiedade emerge no ser o desejo de escrever algo que expresse o momento presente. O fato marcante é a interrogação: por que tanta vontade de criar se esse sentimento de inquietação não permite a concentração devida?
O escrever pelo escrever, o criar pelo criar, o falar pelo falar, a vida pela vida, tudo se soma a um único termo, gratuidade. Na vida acadêmica os jovens se fecham à produção científica, o que por sua vez , se é que se pode analisar por esse veio, já é reflexo do mundo que os espera, o mundo em que eles já vivem, mundo de necessidades.
Várias vezes se ouvem de pessoas até conceituais que só devemos fazer o que é útil; ora, mais uma interrogação à tona: o que é inútil nesta terra onde até das coisas ruins tiramos proveito? E se nada é por acaso, por que escrever ou criar onde a inquietude interna não o permite?
Todo ser humano luta pela felicidade. Ser feliz é aproveitar os momentos que a vida proporciona tendo sempre a certeza de que tudo passa. A vida é oscilação, do contrário não teria graça. No texto bíblico, o mar indica incerteza, trevas, contrários, e lançar-se na vida ao nascer é estar nessa incerteza.
O que fica dessa fala maluca, porém expressiva, pois nada é por acaso, é que a estagnação não é um caractere plausivelmente humano. Eis, portanto, um ponto positivo da infeliz ansiedade. Esta é indicação de que o ser está em movimento, por isso, antes ansioso que estagnado, pois a estagnação pode ser o primeiro estigma de um féretro.
* Leitor e, eventualmente, colaborador