Antônio Adenilson Rodrigues Veloso *
“Cada vez que morre alguém de gênero humano, toda humanidade morre um pouco. Por isso não me perguntes por quem os sinos dobram eles também dobram por ti” (Ernest Hemingway)
Deus esteja.
Existe, Fabio e Claudia, na dramaturgia universal, uma obra prima do gênio de Sófocles, onde um personagem, entre conformado e inconformado, no fluir do drama disse uma grande verdade.
“Ninguém foge da tragédia”
Porque o povo grego, insulado na mediterraneidade dos seus horizontes e mais do que o povo grego, Sófocles tinha tão arraigado, no espírito, esta convicção de que a vida é uma perene tragédia?
Já o nosso enigmático João Guimarães Rossa, mas não menos realista, já dizia que “viver é muito perigoso”.
Não pode haver neutralidade entre o direito e o crime como no-lo relembra Rui Barbosa, e crime brutal de que foram vitimas, merece punição das mais severas, antecipando-se a Justiça dos Homens e justiça divina, da qual não fugirão.
O soturno silêncio daquela fatídica noite, nos arredores da garbosa Montes Claros, foi agredido pelo silvo das balas assassinas, e o baque das marteladas, que lhes esfacelaram os crânios, prostando-os para sempre, e o rutilo brilho do sangue jorrado foi adensado pelas sombras que nele projetaram, iniciando o ciclo da grande tragédia, que comoveu toda Minas Gerais.
Toda Montes Claros, desde o primeiro instante, execrou, na sua convicção, como sendo seus algozes, os rebentos da Policia Civil, e daí, as Insuperáveis dificuldades, superiores, o inicio das investigações, um tragicômico jogo de cartas marcadas, onde de nada valia a prova, e as evidencias eram toldadas, e os fatos e circunstâncias inelutáveis deturpadas, pois, paradoxalmente, com a convivência dos os seus algozes procuravam a si mesmo...
Porque a sombra malta de policiais assassinos e reiteradamente brindada com estranhas e inusitadas beneses, desde a bajulação delirante ate a impunidade perpetua, garroteando o principio da igualdade de todos perante o primado da lei, em atos de favoritismo pessoal, capazes de se projetarem na área do escândalo publico, que repulsa tal tipo de procedimento, é que levaram a vocês a condição de vitimas imoladas deste monstruoso crime pois, bem o sabem seus algozes da impotência do braço da justiça para alcança-los.
A violência esmaga o direito. A opressão ofuscou a liberdade, e o arbítrio eclipsou a Justiça e uma noite de chumbo envolveu toda Montes Claros, mergulhando o povão na escuridão do ódio, da intolerância e do medo daqueles a quem corre a obrigação de nos das segurança e velar pelos nossos sonos.
Possuímos, em Montes Claros e instinto da Liberdade, a paixão pela Justiça e o senso pelo Direito. Percebemos a aurora, em plena noite, mesmo quando as sombras do obscurantismo podem retardar a alvorada, que já surgindo, nos horizontes da Pátria.
Ainda, com a alma ulcerada de desenganos, famintas de justiça e angustiada por liberdade, esperamos que o Delegado Brauna, que tem o nome parecido com o nome de poetas, aponte seus algozes a Justiça, e demonstre que a Policia não é só eficiente para jogar jatos de água suja em professores em greve, indefesos, e para perseguir torturar, a assassinar os fracos, oprimidos e batidos da fortuna, atirando-lhes, com Herodes, nos ombros, a túnica do opróbrio.
Estou solidário com vocês, na dor de seus familiares, e como vocês também fui vitima dos tiros da policia, e mesmo assim, policiais são recebidos, por certas autoridades que não se pejam da sua convivência com os crimes da policia, em afronta a comunidade ferida e as suas vitimas.
Mas Deus é grande.
Dia chegara em que os coveiros criminosos serão implacavelmente julgados pelos tribunais da Historia, e desde já estão afundados, no desapreço e descrédito da opinião publica.
(Antônio Adenilson Rodrigues Veloso, artigo escrito em 23 de junho de l.981, no Jornal do Norte)
Nota: Fui Advogado de Acusação da Família de Fábio Martins e Georgino Jorge de Souza, advogado da Família Claudia, o Júri de Montes Claros, presidido pelo Juiz Danilo Alves da Costa condenou os Réus a 36 anos de prisão - Bispo cumpriu sua pena, o abominável Homem das Neves, foi assassinado por Edson Pistoleiro a mando do pai de Claudia Getulio, condenado a 12 anos de prisão pelo Júri de Ribeirão das Neves, morreu na prisão)
* Advogado