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Quinta-Feira,16 de Janeiro

Precisamos de Quixote

Jornal O Norte
Publicado em 13/04/2006 às 12:22.Atualizado em 15/11/2021 às 08:33.

Délio Pinheiro *



O melhor livro que ainda não li é “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes. Mas essa falha está prestes a ser sanada, já que tenho revirado os sebos de Moc, como aquele do Wagner Black lá no Sagrada Família, em busca desse acepipe literário.



Talvez eu saiba todas as implicações psicológicas sobre cada um dos personagens, de Quixote e Sancho até Dulcinéia, sem ter lido uma linha sequer do “romance dos romances”, na definição do crítico inglês Harold Bloom. Essa aparente contradição se resolve com o advento do Google e de toda informação que nossa geração tem acesso, e que, quase sempre, é vilipendiada pelo conformismo e pela preguiça.



Voltemos ao Quixote. Bloom vai mais longe ao afirmar que só Cervantes, ao lado de Dante e de Shakespeare, compõem a trinca do cânone ocidental, uma espécie de hall of fame das letras.



Estamos ainda nas comemorações dos 400 anos do lançamento do romance do Cavaleiro da Triste Figura, e essa é, sem dúvida, uma ótima oportunidade para se enveredar nas alucinações e na fé inabalável do Quixote.



Afinal, talvez, só nos resta mesmo acreditar no imponderável na hora de lidar com o cotidiano, em ocasiões, por exemplo, quando somos bombardeados em nossa sala de estar com as cenas da dança grotesca em que se comemora, com escárnio, a impunidade nas CPIs e a perpetuação de nossa cleptocracia, e cenas em que advogados instruem uma assassina fria e cruel a se comportar como uma menininha pura e traída pelos lobos vorazes de sobrenome Cravinhos. Ou ainda a cena da menininha jogada na imundície da Pampulha e que foi salva por um milagre (da mídia?). Ou ainda as cenas do documentário “Falcão- meninos do tráfico”, em que se pode notar até que ponto o nosso descaso criou o abismo de medo e insegurança, em que crianças são aliciadas para o tráfico, e se aventuram na corda bamba, sem rede de segurança, no circo destruído de nossas frívolas utopias.



Talvez precisemos de doses monumentais de perseverança, assim como o Quixote, para continuar a nadar contra essa corrente de impunidade, violência e desrespeito que nos chega pelas não sei quantas linhas de resolução de nossas TVs de plasma, agora também digitais. Enquanto que no esfuminho de nossas janelas, crianças cheiram cola e planejam o dia em que vão levar nossa tranqüilidade e, de quebra, nossa tão sonhada TV de plasma.



Mas, voltemos à ficção. Num artigo para o The New York Times, o nosso Harold Bloom fez a famosa pergunta sobre a ilha deserta: “Se você pudesse levar um só livro, qual seria?”, o próprio crítico responde que o leitor de “discernimento autêntico”, ficaria entre a Bíblia na versão do rei James, a obra completa de Shakespeare e o “Dom Quixote”, de Cervantes. Estão aí três opções das mais ilibadas que se pode ter notícia, mas agora eu gostaria de transferir essa pergunta pra você, leitor do Opinião: Qual seria o livro que você levaria para essa ilha deserta, que talvez se pareça com aquela do seriado Lost ou também como aquela do Robinson Crusoé, na companhia do Sexta-Feira ou do náufrago do Tom Hanks, tendo como “companhia” o Wilson? Vamos fazer uma pequena enquete aqui através do jornal. Então, mande e-mails pra mim, se quiser pode também soltar os cachorros sobre essas coisas todas que aí estão. Anota aí: deliopinheiro@ig.com.br



* jornalista e radialista


www.novoslabirintos.blogger.com.br

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