Jeny Canela Perosso
Pedagoga – Funcionária pública municipal
Evidentemente que precisamos ter e incitar, sempre, olhares otimistas também frente aos desafios educacionais. Contudo, parece-nos fundamental faze-lo numa perspectiva de estranhamento para que possamos contribuir, de fato, para a melhoria e para a transformação. Mormente no que concerne aos números e dados estatísticos reais e ainda preocupantes sinalizadores da importância de estarmos permanentemente questionando e ousando propor alternativas e soluções para superação das demandas oriundas, dentre outros aspectos, da estrutura sócio política econômica do sistema educacional brasileiro. Conscientes de que: “questionar é uma postura pedagógica altamente favorável a melhoria”, conforme citação do professor e doutor Miguel Arroyo, e conforme acreditamos sê-lo.
Bastante coerente a citação legitima a necessidade de uma predisposição em abrirmos mais o leque de discussão das questões educacionais fundamentalmente aquelas concernentes as defasagens do processo ensino aprendizagem sem a pretensão de nos isentarmos da responsabilidade que é de todos e não apenas do professor em sala de aula.
Nesta perspectiva e na busca da reconstrução de fato da escola, não há como a referida instituição prescindir, nos projetos políticos pedagógicos, da riqueza incomensurável da poesia por tratar-se de recurso literário carregado de ludicidade e emoção. Ingredientes dos mais preciosos no processo de formação humanística e acadêmica de cidadãos que exercitam, verdadeiramente, o direito de pensar, bem como de protagonizar a construção do próprio conhecimento.
A poetização dos espaços educativos pressupõe, portanto, uma valorização maior dos textos poéticos que sugerem o trabalho e a exploração das especificidades mágicas da poesia refletidas na riqueza de imagens, musicalidade e rimas que asseguram uma insinuante intimidade com as letras, com as palavras e com o discernimento. E pode despertar para a doçura do prazer de educandos e educadores se familiarizarem mais com as várias vertentes do conhecimento. Desejando, cada vez mais, adentrar em seus mistérios, fascínios e patamares de subjetividade o que pode levar a compreensões maiores de conceitos e de interpretações.
A referida reflexão sugere também repensarmos alguns equívocos historicamente repetidos pela cultura escolar e que podem ser ressignificados com leveza e humildade para que tenham efeitos e reflexos positivos no processo de melhoria. Nesse sentido, poder-se-ia sublinhar, dentre outros equívocos, a sacralidade aos textos de livros didáticos quando trabalhados de maneira unica e unívoca ignorando o amplo universo de textos postos na sociedade, inclusive os poéticos.
Ressalta-se que a exploração da diversidade textual e, mais especificamente da poesia, produzida pelos grandes poetas e também pelos alunos, se faz necessária pelo fato de que também favorece melhores distinções, nesse bombardeio de informações e imagens, daquelas que se aproximam mais da função social e politica do conhecimento e, consequentemente, da utilidade prática do mesmo para participações mais efetivas na vida em sociedade.
Vale sublinhar que a riqueza de possibilidades que podem advir do trabalho com poesia favorece a escola e professores investimentos mais direcionados para instigar a inteligência e a sensibilidade. Fato que por si só justifica a necessidade de os projetos políticos pedagógicos darem ênfase maior a este recurso literário que pode também reascender a imaginação facilitando a sistematização e a apreensão dos conhecimentos.
Uma sugestão a ser considerada para motivar os alunos, refere-se a possibilidade de as escolas criarem calendários para trabalharem com poesias aproveitando-se das datas comemorativas antecipando, por exemplo, dia das crianças, dia do professor, dia dos pais, dia das mães, dia do meio ambiente etc. Uma outra sugestão é o professor ler diariamente poesias incluindo não apenas os poetas consagrados mas também os revelados em sala de aula. Isso, no propósito de forjar e valorizar a formação de novos poetas, num processo de poetização maior dos espaços educativos.