Por Paulo Henrique Souto
Freqüento festivais de cinema há muito tempo, por todo o país e mundão de meu Deus. No ano passado, ao lado de Carlos Alberto Prates e Alberto Graça, fui, com prazer, homenageado no Primeiro Festival de Cinema de Montes Claros, minha terra natal, onde exibi, 28 anos depois, “Aníbal um carroceiro e seus marujos” (foto). É meu único filme, um média-metragem com linda fotografia de José Tadeu Ribeiro, com os grupos folclóricos das festas de agosto: catopês, marujos e cabloquinhos que animam a cidade todos os anos.
Enfim, estive em dezenas de festivais, mas esses dias vivi uma experiência gratificante: juntei-me à jovem equipe, como assessor de imprensa, do I Festival de Cinema de Nova Iguaçu, o Iguacine, que veio para ficar, com certeza. Cerca de 300 títulos inscritos, 50 curtas selecionados, gente de todo o país mostrando seus filmes para uma cidade que respira cinema. Há dois anos a cidade abriga a Escola Livre de Cinema, com cerca de 700 alunos, crianças, adolescentes e adultos, que criam e fazem filmes, incluindo desenhos animados de alta qualidade - alguns são vinhetas de TV de grife; outros, exibidos mundo afora.
Esses 700 alunos mais os parentes e aderentes formaram o público interativo do Iguacine, milhares de moradores assistiram a filmes, de graça, alguns pela primeira vez, jamais tinham ido ao cinema, em projeções espalhadas por toda Nova Iguaçu. Com 30 anos servindo ao cinema brasileiro externo aqui o prazer de fazer parte deste time liderado por Marcus Vinicius Faustini, cineasta e diretor de teatro premiado, idealizador da Escola Livre de Cinema e hoje secretário de Cultura de Nova Iguaçu, um azougue, uma usina de idéias.
Assim que fui sondado para trabalhar, fui lá conhecer a secretaria e a escola. Fiquei encantado. Na sede da Secretaria, Faustini derrubou paredes, colocou todos frente à frente, chamou os grafiteiros bons da área para decorar o ambiente, tirando aquele ranço comum às instalações que abrigam funcionários públicos, os barnabés, assim denominados por meu conterrâneo Cyro dos Anjos, imortal da ABL. Com se não bastasse, instalou computadores e abriu as portas aos jovens da cidade, que criam blogs, trocam idéias via mundo virtual. Assisti a curtas do Vidigal, da Maré e de toda a Baixada.
Os diretores debateram com um público interessado, fiquei emocionado e feliz; são jovens que não se lamuriam, eles criam, mostram suas comunidades escancaradamente e com bom humor e abominam a idéia de exclusão. Fazem como podem, têm a exata noção do prazer que é fazer cinema, quer seja usando o celular ou alugando câmeras, curtem a oportunidade que o cinema proporciona de trocar idéias e integrar, têm consciência de que é uma arte de muitos.
São persistentes. Indagados pela platéia se cinema tem futuro, se dá grana, respondem que acreditam no que fazem. Afinal, cinema é cachoeira, já dizia o velho Humberto Mauro, eles tocam o barco. Que maravilha gratificante a sensação de ver ratificada ali a força do cinema. Com certeza dali sairão bons cineastas, sem fronteiras, para a janela mágica do mundo. Oxalá. Aguardemos o Iguacine 2. E preparem-se para pegar a Via Light e ir conferir. Valerá a pena ver pra crer.