Alberto Sena (*)
Montes Claros fica uma delícia nesta época do ano; dezembro, janeiro. Vivemos as safras de manga, pequi, pitomba e jabuticaba, porque a de cagaita, nome científico Eugenia dysenterica, já se foi. O nome popular, cagaita, é sinônimo do científico, daí não ser conveniente abusar da fruta, principalmente quente de sol.
Fato é que Montes Claros tem sabor, cheira e transpira pequi. E para o ano, poderá agregar mais sabor e mais cheiro. O prefeito Luiz Tadeu Leite estuda incluir, na próxima Festa Nacional do Pequi, o maxixe.
Ao ler o texto ‘Enquanto se pode maxixar’, ele deixou um comentário: ‘Muito oportuna a sua sugestão’ de realizar também em Montes Claros uma festa nacional do maxixe – do fruto e da dança.
‘Imagino a possibilidade de a gente acrescentar o maxixe como co-motivador da festa do pequi’, disse o prefeito. E acrescentou: ‘Poderíamos ter, assim, a ‘Festa Nacional do Pequi e do Maxixe’. Tadeu justificou a ideia: ‘O maxixe mereceria uma festa só dele, mas talvez isso motive críticas no sentido de que estaríamos promovendo festa demais’. Por fim, Tadeu Leite pede opinião: ‘O que você acha da junção do pequi com o maxixe na nossa festa de porte nacional?’
Particulamente, eu acho boa a ideia e digo mais: pode-se começar assim, festejando o pequi com maxixe – o fruto e a dança. Mais pra frente, dependendo da repercussão e do interesse das pessoas, o maxixe poderá vir a ter ou não uma festa particular. É um caso a pensar e avaliar.
Claro que uma festa dessa não seria só para defender única e exclusivamente o pequi ou o maxixe. Necessário se faz aproveitar a motivação para alertar o Norte de Minas para os perigos em derredor, incluir no evento uma dose de cultura e ideologia no sentido de conscientizar as pessoas para a necessidade de defender Montes Claros como cidade pólo e a população, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida na região.
Com o advento da mineração, o Norte de Minas corre o risco de, numa comparação, virar laranja chupada – bucha de laranja, no sentido lato. Os chineses, embora não tenham olhos abertos tanto quanto nós temos, enxergam longe e têm cacife. Se nós não ficamos atentos e vigilantes, eles poderão fazer bem (ou mal) o que bem quiserem.
O jornalista Dídimo Paiva, profissional que de idade tem hoje 82 anos, 60 dos quais só de jornalismo, cujas histórias escrevemos em viagem fictícia de trem de ferro carregado de passageiros e de memórias, conclui um livro intitulado: ‘Maldição dos países ricos em minerais’. O alerta dele serve direitinho para o Norte de Minas, de onde as riquezas podem ganhar asas para servirem a meia dúzia de senhores.
Montes Claros já teve vários boons político e socioeconômicos. Teve o da ‘Revolução de 30’, o da pecuária, o do comércio, o da indústria, o do carvão vegetal. E embora viva ainda hoje dependente de tudo isto, daqui a pouco experimentará o que acontece antes, durante e depois que o minério de ferro for retirado do terreno.
Mas se tudo isto for inevitável, fiquemos todos atentos, vigilantes. Mineração não é só para abrir crateras e buracos. É também para cumprir com todas as obrigações ambientais, recompor de acordo a área após a exploração e reduzir ao mínimo os danos colaterais.
Em vista disso, que a próxima ‘Festa Nacional do Pequi’, a XXI, venha com recheio de maxixes – o fruto e a dança – para chamar a atenção para essa tríade, mas também para as necessidades de Montes Claros, porque em democracia, quem cala consente. Quem discorda faz como a criança de peito: chora e grita quando está com fome.
Um tempo para a escritora Ivana Rebello: ‘Gostei muito do seu olhar sobre Montes Claros e da sua declaração de amor sem ufanismo, mas onde se nota a apreensão do que é verdadeiramente nosso. Reencontrar o ‘torrão natal’ tem sido uma máxima bastante produtiva na literatura; experiência desencadeadora de lembranças e evocadora de uma memória que evoca sentidos, sensações e poeticidade. Aproveitei e li a sua crônica, literalmente saborosa, porque escrita sobre maxixes e humor. Particularmente, como ‘seo’ Ênio, sou adepta de uma boa maxixada, com carne de sol desfiada, acompanhada de pimenta dedo de moça e farinha Morro Alto. Ahhhhhh!!!! Delícias do sertão, que devem ser degustadas num dia de sábado, na companhia de amigos diletos e, quem sabe, regados com uma cervejinha bem gelada. Ao fundo, essas modas da nossa gente, que não tocam nas rádios comerciais, mas que deixam a ‘gente comovido como o diabo’, como disse uma vez Drummond (outro bom produto desses gerais). Abraços literários desse sertão montes-clarense’.
(*) Jornalista e escritor.