A coerência entre dizer-se pessoa de fé e a prática em relação à mesma dá frutos para quem o vive e também para os outros. Ao contrário, ocorre com frequência o fato de a pessoa apresentar a teoria ou a aparência de fé e ser de empecilho para os circundantes.
O próprio Jesus reprova atitudes de mestres da lei e de fariseus: “Não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam... Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros” (Mateus 23, 2.5). A real pessoa de fé religiosa sempre tenta ser consequente com sua crença. Esforça-se por ser ética, justa, honesta, misericordiosa, responsável na realização dos encargos de que se incumbe. Se exerce função de liderança a que foi eleita pela comunidade, procura servir a mesma da melhor maneira. Na política não trai as pessoas e a sociedade. É coerente em promover políticas públicas de interesse de todos, a partir dos mais deixados de lado. Não mente em prometer só para ganhar votos. Não vai comungar só para fazer sua propaganda política, não sendo pessoa de real participação nas atividades da Igreja. A árvore boa se conhece por seus frutos. Por isso, é preciso os eleitores olharem bem a história dos candidatos às eleições para não serem enganados! Os próprios eleitores também podem não ser pessoas coerentes com a fé se venderem o próprio voto por favores recebidos ou outros interesses, não elegendo pessoas de real grandeza moral e de caráter.
No cotidiano precisamos ficar sempre vigilantes para não sermos pedra de tropeço para o semelhante. Podemos também não ser coerentes com nossa fé. Isso acontece quando não percebemos a missão que Deus nos dá de usarmos nossas capacidades e oportunidades para cooperarmos com o bem das pessoas que nos cercam. Poderíamos, talvez, unir-nos mais a causas de interesses comuns, para erradicarmos todo tipo de agressão à vida, aos mais frágeis, à dignidade da pessoa humana, ao meio ambiente, exigirmos honestidade no trato com a coisa pública... A legítima manifestação do povo em relação às suas necessidades deveria ser bem aceita, como contribuição aos próprios políticos, que deveriam agradecer à população a indicação de seu serviço a ela.
O profeta Malaquias é claro no dizer a posição de Deus em relação aos sacerdotes de então e serviria isso também para os desmandos do povo: “Se não quiserdes ouvir e tomar a peito glorificar o meu nome... lançarei sobre vós a maldição. Vós, porém, vos afastastes do reto caminho e fostes para muitos, na observância, pedra de tropeço... praticastes discriminação de pessoas... Então, por que cada um de nós é desonesto com seu irmão...? (Malaquias 1, 4; 2, 8.10). O que o profeta diria de muitos políticos em relação a seu mandato? Eles ganham muito dinheiro e deveriam atender muito bem a seu patrão, que é o povo, que o colocou como seu empregado!
Tirar de nós o que nos impede de melhor atendermos ao bem das pessoas e de toda a comunidade faz-nos rever as atitudes. Há quem dê exemplo disso. Tantos reviram suas ações e mudaram de vida, colocando-se inteiramente a serviço da sociedade. A graça de Deus toca o coração de quem é humilde em reconhecer seus limites e em usar seu potencial para contribuir com um mundo mais justo e fraterno!
*Arcebispo metropolitano de Montes Claros. É presidente do Regional Leste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para o quadriênio 2011-2015.