Papo de buteco

Jornal O Norte
Publicado em 09/06/2009 às 10:47.Atualizado em 15/11/2021 às 07:01.

Ajax Tolentino


Advogado e escritor



Uma turma reuniu em um barzinho, para bater um papo e beber umas, numa roda só de homens. Começaram a falarem do passado bem mais distante, deles e de Montes Claros. E cada um recordou de um fato que ficou gravado na sua em mente deste período.



Quem começou foi Marcos, que se lembrou daquele tempo, em que os estudantes, principalmente universitários, ou pretendentes a ingressar em uma faculdade teriam que ir para Belo Horizonte. Lá que era o eldorado dos estudos. E o transporte daquela época eram o trem de passageiros que saia a noite, para chegarem no outro dia na hora do almoço. Marcos recordou que no trem de passageiros tinha um vagão de leito. Aqueles que conseguiam um leite, que era fechado e usado por duas pessoas, guardavam as malas dos outros. Depois, todos seguiam para o carro restaurante, para jogar, beber ou namorar, era aquela farra. La pelas tantas os donos dos leitos iam dormir nos seus leitos e o restante, iam para as poltronas, para também dormirem. Não preocupavam com as suas malas, pois elas estavam guardadas nos leitos dos outros. Assim era feito a viagem.



Pedro em seguida falou: Naquela época parte da estrada para Belo Horizonte era de terra, asfalto só a partir de Curvelo. Na parte anterior da rodovia era só buraco e poeira, por isto ninguém queria viajar de ônibus.



Quando chovia então, e era férias dos estudantes no fim de ano, tornava difícil vir para Montes Claros. De trem, as barreiras caiam, ficava sem este transporte. De Jardineira, um ônibus de menor porte usado para o transporte de pessoas Única maneira para quem estivesse querendo chegar logo. Sem ter que esperar a chuva dar uma trégua. Os pais avisavam logo. Não venham agora, espere a chuva parar. Para eles não ficarem preocupados, por parte principalmente dos estudantes homens. Não informavam que vinham, chegando de surpresa. A viagem era aquele sacrifício, quando passava de Curvelo para cá. Na decida à Jardineira ia, na subida amarravam-se cordas e os passageiros puxavam, era duro, mas divertido. Gastava-se até dois dias de Curvelo a Montes Claros.



O outro a seguir, que também recordou o passado foi Luiz, lembrou que naquela época a estrada para Belo Horizonte passava pela Serra da Onça. Uma serra íngreme, que os caminhões carregados subiam com sepo. Isto é, tinha dois tocos de madeira. Ficava cada um dos tocos, de um lado do caminhão, com uma pessoa. Fazia-se deste modo: ligava-se o motor do caminhão que ia subindo, quando o motor começava a esquentar, tinha que para. Como o freio não agüentava o peso, colocavam-se os tocos, atrás de cada roda traseira do caminhão. Agora era só esperar o motor esfria para nova etapa. Repetia assim tudo de novo. Era até interessante ser visto. À Jardineira nessa ocasião, parava para os passageiros verem. Não esqueço isso até hoje, era até divertido, coisa que não acontece mais.



José falou, é minha vez, me lembro da minha ida para ir estudar, só que não era para Belo Horizonte, e sim para Diamantina. Duas coisas ficaram gravadas em minha mente dessas viagens. A primeira coisa é que Diamantina é num lugar muito alto. Por isso o trem que nos levavam, subia o serra puxado por correntes, senão não chegava lá em cima. E a outra era o frio da cidade. Quando era tempo de frio, para agüentar sempre foi difícil, as cobertas não davam contam. Tinham que apelar, e colar jornais nas cobertas, para resistir, que Diamantina.


 


FALANDO DE MONTES CLAROS, JÁ AQUI NAS FERIAS



Gilson recordou das férias nesta cidade, no meio do ano, era ensaio de quadrilha de S. João todo dia. Tinha uns que dançavam em quase todas elas. Mas, a festa era feita em no máximo três dias. Assim, cada um tinha que escolher para si, as três mais agradáveis para ir. Embora o mais gostoso das quadrilhas fosse os ensaios. Tinha até uma turma que ia aos ensaios levando seu próprio sanfoneiro, pago por eles.



Joaquim em sua vez falou: lembro-me é das horas dançantes das férias, em Montes Claros, era no domingo pela manhã na Boate da Praça de Esporte e a noite no Clube Montes Claros. Que horas dançantes. Dá saudade delas, e das musica tocadas, da época.



Mariano então disse: bom eram as festas de formatura, no fim do ano, quase todo dias tinha uma. Como muitas das formandas eram do interior, acabava a formatura lá iam elas embora para suas cidades. No outro dia, era só procurar uma nova formando, para ir com ela para dança a valsa, como também namorá-la por um ou dois dias. Era aquele sucesso, cada baile uma namora. Não me esqueço disso, fui um Don Juan, na época das formaturas, uma namorada a cada dia. Não por capacidade, mas pelas circunstâncias.



Manoel então lembrou: está tarde, vamos embora se não apanhamos, pois todos nós hoje somos comprometidos. Quem naquela época aproveitou, aproveitou, agora não dá mais.

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