Pais e filhos

Jornal O Norte
Publicado em 29/10/2010 às 11:29.Atualizado em 15/11/2021 às 06:42.

José Wilson Santos


zewilsonsantos@hotmail.com



Enquanto esperamos Isaac Wilson se recuperar e vir para casa — o que, com a graça de Deus, acontecerá nos próximos dias —, vamos briquitando com Ítalo Kaleb, treinando para fazer frente aos meses brabos que virão por aí, em dose dupla.



Devo dizer que estou fora de forma pacas, o que não me parece anormal pra um cara prestes a virar o Cabo da Boa Esperança. Acordar à noite, religiosamente a cada duas horas e pouco, é ...oda, mesmo para o Degas aqui, ainda bem-acostumado a entrar e sair, entrar e sair noites adentro, acordadão da silva.



Ítalo, com seus 15 dias de vida, já me leva no bico numa boa: após esgoelar para anunciar que está pronto para mamar e ser trocado, bota sorrisão nos lábios e me fita com seus olhos azuis infinitos, o que, convenhamos, é covardia. Depois de alimentado e limpo, mais sorrisos, que vão diminuindo medida em que os olhos estreitam e fecham ao som de velhas cantigas de ninar, das quais o mundo moderno não mais se lembra, para infelicidade das criancinhas. (Cabe a mim a satisfação de embalá-lo, inclusive como forma de acrescentar mais alguns minutos ao sono de Melancia — que venhamos e convenhamos, é mais susceptível às modinhas de ninar).



Às vezes, Ítalo cerra os olhinhos, faz biquinho e fica assim, no berço, por mais duas horas e tanto; outras vezes, nem cerra os olhos nem faz biquinho, e bronqueia se for tirado dos braços. É preciso respeitar seu tempo, porque – só não o sabem os abestados que não participam — pra ele não inflói nem contribói ser madrugada ou dia. E eu respeito. Não só seu tempo, mas as necessidades da sua pessoinha – que, às vezes, na madrugada, só precisa dos meus beijos, meus braços, minha voz e meu calor.



E beijo com borra, índio velho! Babo as crias de montão. Que o diga meu filhote Thiago — com seus quase dois metros de altura e 28 fios de bigode caprichosamente cultivados —, que ainda hoje leva beijão estalado na face, esteja onde estiver, e retribui, dependendo do lugar, às vezes plenamente convicto de que paga mó micão, após beijar-me a mão ao tomar a benção. Hábitos que, espero, ele cultive com seus próprios filhos, por que inerentes a pais e filhos que se amam e se respeitam.  



Taí um trem de que me orgulho pra dedéu: sou do tempo em que não bastava ser pai, tinha que participar. Infeliz é o homem que, tendo feito um filho, não reserva tempo para acompanhá-lo no seu desenvolvimento, moldando-lhe o caráter, incutindo-lhe os valores éticos e morais com os quais ele navegará em segurança e respeito vida afora. E que, ao seu tempo, os repassará orgulhoso, aos seus próprios filhos, com a plena convicção de que assim deve ser.



Dito isso, vou tirando meu time de campo, com a licença de vocês, porque o dia é longo e a noite promete. E não vejo a hora de a noite chegar, porque é nesse horário que tenho todo o tempo do mundo pra tomar meu filhotinho nos braços e contar-lhe como foi o dia do paizão aqui.



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