OUTRA MANHÃ DE SÁBADO

Jornal O Norte
Publicado em 03/02/2009 às 09:58.Atualizado em 15/11/2021 às 06:50.

Antônio Augusto Souto



Órfão de inspiração, estou no local onde armazeno os livros que adquiri, ao longo da vida. Um sofá creme que foi expulso do corpo da casa, na última redecoração; mesinha com a Sperry Remington cinquentenária, que foi doada a Lalá, para enfeitar o escritório da casa nova; e ainda não foi levada. Mesa onde costumo ler e escrever. Nela, o caos de sempre: livros abertos, jornais, revistas, folhas em branco, folhas rabiscadas e canetas. Entre os livros, meus companheiros inseparáveis: Aurélio, Michaelis, Houais e o Melhoramentos Ilustrado e de quatro volumes, que me foi dado de presente por Suzana, minha cunhada.



À direita, o PC que venho aprendendo a usar, nos últimos anos.



Na parede, tela que pertence a Lalá: três banhistas que me remetem às três mulheres do sabonete Araxá e a Manuel Bandeira. Relógio-cuco quase centenário, que funcionava muito bem, até a chegada de Sil, a primeira neta.



Em outra parede, molduras com diplomas e certificados de cursos e homenagens: mimo de Eunice que, nesta manhã de sábado, me faz solitário e saudoso.



Volto à tela das banhistas: duas seguram taças de vinho rosê. A terceira cobre o seio esquerdo com a mão direita. Não me parecem bonitas nem feias. Acho que são ascéticas. Diferentemente do velho Bandeira, eu não daria meu reino por elas.



Pela janela, vejo que o sol, finalmente, apareceu. Pipilar de pardais safados se misturam ao ruído de carros que passam pela avenida. Duas flores de hibisco balançam, à mercê do vento: prenúncio de chuva.



Meu copo está pela metade e pretendo reabastecê-lo.



Continuo órfão de inspiração.



Levanto-me e vou ao quintal. O pé de mangustão está frondoso e bonito. Lembro-me de Gílson e Taninha. Dele, porque é o guerreiro que  venceu o grande mal e a quem prometi muda de mangustão. Dela, porque é a guerrilheira que persegue sonhos.



Lembro-me da arquiteta Miriam, que mora em Juiz de Fora e sabe, como ninguém, projetar a casa que o homem merece. Presentemente, ela está na cidade, cuidando da futura moradia de Gílson e Taninha – entre outras.



Relação de aprovados nos últimos vestibulares da UFMG e da UNIMONTES me traz à lembrança Fernandinho Colares, que costuma ler as coisinhas que escrevo, é meu médico de estimação e tem lugar preferencial, no lado esquerdo do meu peito. Tina também mora neste coração. Grande e generoso Fernando!



Vou ligar para Eunice, que está em Belo Horizonte, com Benito, Cau, Sil e Analu. Vou falar com Benito e lembrar acontecimentos da nossa mais recente viagem. Grande companheiro, o Benito.



Sinto-me burro, porque ainda não consegui domar esta máquina, inteiramente. Assim como ainda não aprendi a desfrutar de todos os recursos do celular e da câmera digital. No manejo dessas coisinhas tão modernas quanto úteis, perco de dez a zero até para Rodrigo, o neto de seis anos. Concedo que ainda não li, por preguiça, os manuais respectivos.



Alguém me disse, faz tempo, que o que me falta é paciência. Continuo achando que meu problema não seja falta. É sobra mesmo. Excesso de burrice.

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