Oscar Niemayer e outros camaradas

Jornal O Norte
Publicado em 05/12/2007 às 12:28.Atualizado em 15/11/2021 às 08:25.

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves *



No dia 15 de dezembro, Oscar Niemayer, o brasileiro classificado como a 9ª mais importante personalidade do mundo contemporâneo, completa 100 anos de vida. Marca pouco comum ao gênero humano. Quem não gostaria de ter a certeza de chegar aos 100? Principalmente lúcido, dinâmico, respeitado e ainda ouvido, como o arquiteto.



Oriundo do grupo liderado por Lúcio Costa e Le Corbusier, que implantou no Brasil a arquitetura moderna, na metade dos anos 30, Niemayer tem suas obras plantadas pelo mundo afora, entre elas a sede da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York, o prédio do Partido Comunista Francês, universidades, igrejas, museus, teatros e parques. Seu grande trabalho, sem dúvida, é Brasília, mas São Paulo não pode ignorar o Edifício Copan, o Parque do Ibirapuera, o Memorial da América Latina e outros. O traço, ousado e suave ao mesmo tempo, que busca reproduzir as montanhas e a liberdade do homem, faz o mundo mais bonito e está presente em todos os quadrantes brasileiros, diretamente ou por aqueles a quem inspira.



Declaradamente “de esquerda”, membro do Partido Comunista, proscrito por muitos anos no Brasil, o arquiteto é o exemplo vivo de que as realizações do indivíduo  contam mais que sua ideologia. Ele jamais usou a violência para impor suas idéias! Mesmo vivendo durante todo o vigor do macartismo, que varreu o mundo depois da 2ª Guerra Mundial, perseguindo milhões de homens e mulheres que não se alinhavam aos ideais direitistas, conseguiu destacar o modernismo de sua obra. Valeu, para a sociedade, o que fez e não exatamente o que pensou, embora todo produto humano seja resultado do raciocínio.



O estereotipo que sustentou a Guerra Fria e dividiu o mundo praticamente inexiste desde 1989, quando caiu o muro de Berlin, grande monumento à intolerância e símbolo de um planeta bipartido, supostamente entre o ‘bem’ e o ‘mal’. Desde a falência daquele modelo, procura-se novas formas de desenvolvimento. Só os mais radicais, inexplicavelmente, ainda conservam o ranço político-ideológico. Há casos em que o ideológico de ontem até exagerou ao adotar novas posições.



A longevidade faz de Niemayer um representante de muitos brasileiros que fizeram nossa história, apesar da intolerância vigente ao longo de suas vidas. Cândido Portinari, Jorge Amado, Di Cavalcanti e muitos hoje vistos como grandes expressões nacionais e até internacionais, tiveram problemas de ordem ideológica em seus tempos. Mas, mesmo assim, despontaram e adquiriram o respeito público. O exemplo dessas figuras não deve ser desprezado, mas seguido pelas novas gerações.



No mundo de hoje a nociva rotulagem ideológica, tanto para a ‘esquerda’ quanto para a ‘direita’, é puro retrocesso. O importante é a ação de cada indivíduo. Todas as nações, inclusive o Brasil, dispõem de um conjunto de leis que regulam o seu funcionamento. Nenhuma delas pune o pensamento do indivíduo, que é livre. Nada impede que o profissional leve até as últimas conseqüências o seu raciocínio. Isso pode até conduzi-lo a novas propostas e fazer a sociedade evoluir. O que não pode é agir em desacordo com a lei. Portanto, hoje, “comunistas” como Niemayer, Amado e tantos outros que permeiam nossa historia, são muito bem-vindos ao conjunto social brasileiro contemporâneo. O pensar é livre. O inaceitável é a transgressão legal, a violência, o ódio, a corrupção e a impunidade, independentemente do perfil ideológico do transgressor...



* Dirigente da ASPOMIL - Associação de assistência social dos policiais militares 


aspomilpm@terra.com.br

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