Manoel Hygino dos Santos
Extraído o Hoje em Dia
Em entrevista a O NORTE DE MINAS, concedida à eficiente repórter Márcia Vieira, Murilo Badaró preenche página inteira com a história de sua carreira política e com evocações de um passado de muitos feitos. Prefeito de sua cidade natal, deputado estadual e federal, senador, secretário de Estado e ministro, preside hoje a Academia Mineira de Letras com um entusiasmo que dá gosto. Para ingressar no mais importante sodalício das letras mineiras, o candidato tem de antecipadamente atender a uma série de pré-requisitos. Entre eles, ter escrito e publicado livros, o que parece óbvio. Murilo é autor, dentre outras valiosas obras, de biografias de Milton Campos, José Maria Alkmin e Gustavo Capanema.
São homens que brilharam na cena política brasileira e deixaram nomes gravados ad aeternum.
Agora, retoca a biografia de Francisco Campos, personagem eminente deste país, sobretudo na primeira metade do século que se esvaiu. No Parlamento mineiro, Murilo discursou antevendo a cassação de Juscelino, presidente da República, como adivinhando. Dois dias antes, pronunciou inflamado discurso que recebeu o título de “Protesto de uma geração”, que talvez suscitasse sua própria cassação. Não houve.
Quando a repórter perguntou sobre a diferença entre os velhos partidos e os atuais, respondeu: “Talvez a maior diferença seja a perda da dignidade. A política está perdendo, gradativamente, a sua dignidade... Os partidos tinham princípios. Eles eram sólidos nas suas posições, mais firmes nas suas convicções. Hoje, os partidos são meras estações de passagem. As pessoas não respeitam e a lei permite que se faça essa confusão política. Infelizmente, os partidos desapareceram”.
Como “ídolos” teve Rui Barbosa, Juscelino, Israel Pinheiro; na ópera, Verdi e Puccini. Considera-se um cidadão igual aos outros, que fez uma careira política com certo êxito, sem ambições materiais, homem de classe média, que deixará um patrimônio moral à família “Basta isso. Não é preciso mais”. Teço estas considerações para que o leitor, atento ao noticiário de jornais, revistas, rádios e televisões, possam comparar o que aqui registro e o que pulula nos meios de comunicação com referência à política e aos políticos (com exceções) de nossos dias.
“Pode ser que existam, hoje, homens mais bem preparados, de cultura mais ampla, mais universal, mas com relação à seriedade, não. Os antigos eram mais sérios, os políticos de meu tempo”. “Eu acho que a imagem do país é muito ruim fora daqui. Claro que existe a imagem simpática do futebol, das mulheres bonitas, da música... Mas, do ponto de vista do extrato fundamental da vida, eu acho a imagem do Brasil muito ruim”. Não ocorrera, à época da entrevista, a série de denúncias no Senado contra seu presidente José Sarney. O Brasil inteiro conheceu as onze graves acusações contra o político do Maranhão, alçado à presidência nacional por força das circunstâncias.
O cidadão deste país ouvira e lera o comentário do presidente Lula de que no Congresso há um grupo de pizzaiolos. Mais uma vez se comprovou. As onze denúncias contra Sarney foram simplesmente arquivadas pelo presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque. Uma farsa perpetrada pelo próprio Palácio do Planalto, e a que a Casa Alta se submeteu. Murilo Badaró não se refere ao episódio. Mas os fatos confirmam: não temos políticos sérios como antigamente, aqueles em que se podia acreditar. De Gaulle teria declarado que “o Brasil não é um país sério”. A cada dia, vai-se confirmando o conceito que o herói francês da II Grande Guerra formulara. É triste admiti-lo.