Felippe Prates
No final do último mês, dois fatos públicos envolvendo preconceito nos chamaram a atenção. O primeiro foi a declaração de Roberto Requião, governador do Paraná, relacionando câncer de mama em homens com paradas gays. “A ação do governo não é só em defesa do interesse público, mas da saúde da mulher, inclusive. Embora hoje câncer de mama seja uma doença masculina, também. Deve ser conseqüência dessas passeatas gays”, afirmou Requião.
A frase causou espanto, é claro, mas teve o seu impacto atenuado pelo menos para a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLTT), que, segundo ela, tem no governador um seu associado, um aliado, onde Roberto Requião seria conhecido pelo adequado nome de Maria Louca.
- Foi apenas uma escorregadela, tentou justificar o presidente da organização. O governador, solidário com a galera, tem ajudado no combate à Aids e na prisão de agressores, todos processados.
Portanto, sua grosseria e a fracassada tentativa de originalidade, seriam perfeitamente dispensáveis. Dono do seu nariz, a opção sexual é um problema apenas dele.
O outro fato foi o ataque a uma estudanete de Turismo, de 20 anos, Geisy Arruda, ocorrido dentro da universidade onde estuda em São Bernardo, no estado de São Paulo. A moça foi xingada e perseguida por centenas de colegas que freqüentam o campus da Uniban, no período noturno. Tudo porque usava vestido rosa-choque bem curto, salto 15, cabelos louros bem tratados e maquiagem pesada. “Puta!” e outros insultos no gênero foi o que ouviu por onde passou. Para sair da universidade precisou ser escoltada por policiais, enquanto tanto alunos do sexo masculino e feminino, quanto professores e funcionários se dividiam assumindo posições de acusadores ou defensores da jovem.
Manifestações de preconceitos atualmente são punidas legalmente o que, sem dúvida e felizmente tem ajudado a diminuir sua incidência. Porém, o que mais precisamos é nos conscientizar de atos e palavras que, a primeira vista não passam de “brincadeiras”, ou podem ser consideradas uma influência do grupo que nos cerca.
Acreditamos que se o governador tivesse prestado atenção na asneira que estava prestes a dizer, teria evitado a chacota da platéia, ver o feitiço virar contra o feiticeiro e optar por manter o decoro. Assim como muitos daqueles que jogaram pedra na universitária tentariam apaziguar a situação, pois o que se espera de um adulto é um mínimo de respeito ao outro.
Mas, quando se deram conta já haviam falado, entregado, exorbitado, revelando que suas crenças e seus valores ainda guardam resquícios de um tempo em que era legítimo nos considerarmos melhores do que os outros.
Tudo isso nos leva a certeza de que por mais que preguemos a igualdade, o famoso “faça da sua vida o que quiser desde que não me afete”, ainda não conseguimos nos livrar de nossas tendências a inquisidores. E, inquisidor, é realmente o melhor qualificativo para todos nós, pois como acontecia na Idade Média, muitas vezes ainda julgamos o diferente culpado, apenasmente pelo fato de ser diferente, usando como escudo uma ótica míope, buscando fazer o bem.
Resta a saber para quem.
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Referência: “Sexualidade” – Patrícia E.Santo
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