Délio Pinheiro *
Estive pensando nos processos silenciosos que entram em ação quando temos uma grande idéia ou uma inspiração que nos leva a dar uma pincelada certeira, ou a encontrar a frase certa, ou a rima, ou mesmo quando fazemos aquele gol de placa improvável.
Não é demais atribuir parte desse insight - eta palavrinha boba! -, a alguma intervenção divina. É quase um milagre mesmo. Na minha auto-descrição no site de relacionamento Orkut, eu digo que escrevo para espantar o demônio que me tenta. Isso é meramente figura de linguagem mas, de fato, eu sinto uma necessidade quase física de criar algo, por mais ingênuo que possa ser. Isso até a fada madrinha da imaginação entrar voando através de minha janela. Então, como num passe de mágica, surgem belas frases que definitivamente têm algum valor estético.
Tem uma passagem ótima de Balzac quando ele diz que a imaginação é uma fada e, ao contato de sua varinha mágica, o diamante mais formoso e a última quinquilharia da terra são iguais e adquirem a qualidade que se queira dar. Concordo plenamente com ele e acrescento para nossa reflexão o modus operandi de um dos maiores poetas brasileiros, Manuel Bandeira.
Ele disse certa vez que não faz poesia quando ele quer e sim quando ela, a poesia, quer. E às vezes ela quer em horas improváveis. E de novo voltamos à questão: quais são os caminhos tortuosos que a imaginação perfaz? Quem tiver uma grande inspiração que possa explicar isso, por favor, fique à vontade. Em última análise, eu posso dizer que o fato de escrever bem está diretamente relacionado com o fato de ler bem. Por isso, leia. Emendar um livro atrás do outro até a eternidade, é essa a minha filosofia já há algum tempo. O escritor alemão Heinrich Mann afirmava que crianças aprendem a ler na presença de livros e que nenhuma pessoa tem o direito de criar filhos sem rodeá-los de livros. Tenho dito.
* Escritor e radialista
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