Os blocos da história

Jornal O Norte
30/11/2009 às 09:30.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:18

Waldyr Senna Batista

Como não mais se falou no “grupo independente” da Câmara Municipal, depreende-se que ele deixou de existir, ou nem chegou a existir, pois dele não se viu  marca que pudesse atestar sua presença.

Indefinido ele era, pois se lançou insinuando disposição oposicionista, mas logo se reclassificou como “grupo dos descontentes”, que não se oporia à administração. Estaria, portanto, em cima do muro, em condições de “negociar” apoios. Embora não confessassem de público, seus componentes estariam imaginando que, assim, valorizariam seus votos.

Liderado pelo único representante do PT no plenário, não ficou claro em nome de qual PT ele estaria falando, já que o minúsculo diretório local, por sinal renovado no último fim de semana, abriga três facções, uma delas, pelo menos, situacionista. E também faltou explicar se os integrantes do grupo continuariam participando das prévias das segundas-feiras, no gabinete do prefeito, nas quais se esquematiza o posicionamento dos vereadores nas reuniões do Legislativo no dia seguinte.

De outra parte, também não se sabe ao certo se o prefeito Luiz Tadeu Leite levou a sério a manifestação do grupo, que, com sete componentes, poria fim à virtual unanimidade de que desfruta. Não sendo o bloco majoritário, seus votos não decidiriam votações, cabendo ao presidente da Câmara usar constantemente o voto de desempate. E o presidente da Câmara, pelo que tem demonstrado desde a legislatura passada, quando era oposição, utiliza métodos peculiares para decidir questões incômodas...

Pelo sim ou pelo não, a suposta tentativa de formação do bloco deve ter reavivado, na memória do prefeito, o chamado “grupo dos onze”, este, sim, de oposição, e de oposição ferrenha, que emparedou  sua administração anterior. Gato escaldado teme até  água fria, diz a sabedoria popular.

Liderado pelo vereador Ivan Lopes, esse grupo impediu que o Executivo aprovasse qualquer coisa na Câmara. Sendo maioria ( 11 de 21) e contando com forte retaguarda política, o “grupo dos onze” infernizou a vida do prefeito e influiu decisivamente para a eleição de Jairo Ataíde, no que poderia ter sido uma das maiores “viradas” da política local, não fossem as reviravoltas que a política oferece.

Na época, o então prefeito apostava todas as suas fichas no denominado projeto Soma, que previa recursos federais para a realização de obras tidas como das mais importantes para a cidade. Seria o equivalente ao que foi o projeto Cidades de Porte Médio para seu antecessor, o prefeito Antônio Lafetá Rebello.

Derrubado o projeto Soma, a administração entrou em parafuso, passando a pão e água durante o restante  do mandato. Nem projeto de transferência de rubrica orçamentária era aprovado, levando o Executivo ao desespero, ao ponto de ter lançado mão de decreto para o fechamento de suas contas, o que constitui infração gravíssima. A Câmara recusou-se a aprovar a lei, que era o instrumento adequado.

O curioso nessa história é que essa oposição exacerbada e demolidora conquistou o poder, mas não conseguiu mantê-lo. Oito anos depois perderia a eleição para Athos Avelino e, ao final do mandato deste, para derrotá-lo, uniu-se ao antigo adversário, o mesmo Luiz Tadeu Leite,  a quem combatera tão ardorosamente.

Mas não há termo de comparação entre o “grupo dos onze”, de estilo “xiita”, com esse insosso “grupo dos descontentes”. Principalmente porque a atual Câmara já demonstrou não ter maturidade e nem preparo, o que faz dela uma das mais fracas das últimas décadas. E é carente de respaldo político para sustentação de posições de envergadura, como foi o boicote total imposto pelo bloco “xiita” do passado.

Embora certamente o prefeito tenha voltado sua atenção, por  instantes que seja,  para o que pudesse ser o surgimento de foco de oposição do Legislativo, não consta que tenha adotado qualquer procedimento no sentido de abortar a ameaça de rebeldia dos sete vereadores. Deve ter concluído que o descontentamento alegado não seria tão expressivo que a instalação de um mataburro ali ou o patrolamento de um trecho de estrada rural acolá não pudesse contornar.

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