Os atos ocultos do Senado

Jornal O Norte
26/06/2009 às 09:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:02

Wilson Silveira Lopes


Advogado, servidor público com direito ao trabalho.

Embora tenha ficado assustado no primeiro momento com os fatos de agora, ocorridos no Senado Federal envolvendo por via direta o Excelêntíssimo Presidente e Senador daquela Casa José Ribamar Sarney, tais ocorrências não assustam de maneira alguma os componentes da mesma, guardadas obviamente algumas raríssimas exceções.

Por ocasião das veiculadas, renovadas e reiteradas práticas nepotistas sempre colocadas no dia-a-dia não só do Senado, mas também do Congresso Nacional, que tem por certo um séquito de assembléias e câmaras de vereadores pelo país inteiro, o Senador Presidente, disse, buscando um óbvio efeito de retórica, o seguinte: “Não seria agora, na minha idade, que iria praticar qualquer ato menor que nunca pratiquei na minha vida”.

Acho que em sua força retórica o Senador Jose Sarney se enganou, porque o que sempre ouvi foi exatamente o contrário, que transitando pelo Poder em qualquer tempo sempre adotou o nepotísmo, os interesses pessoais e as ações à moda antiga de se fazer pactos políticos que são bem parecidos com os pactos políticos que se faziam nos tempos de antanho na nossa querida Montes Claros, na base da demonstração de quem manda e determina o calar a boca.

Os atos inomináveis de clã familiar praticados pelo Excelentíssimo Presidente do Senado, gerenciando com poder e força interesses menores, desprestigiando os interesses maiores da Nação é algo que indica a gula, a materialidade consubstanciada no Poder e, acima de tudo o desprezo com o povo deste País, que dorme em berço esplêndido, distanciado dos fatos que à sua revelia ocorrem, formatando cada vez mais um poder político sem ética, em que se usa o Estado para o alcance de mesquinharias em que se atende a sobrinha, o neto, o irmão ou a irmã, sei lá quantos outros interessados diretamente nessas benesses que afrontam e desrespeitam essa nação silente e ociosa, que só compreende a política para fazer a mesma coisa que os políticos fazem, isto é; conquistar um empreguinho, uma bába ou nesga de poder, para em perfeita sinecura, gozar as delícias de um trabalho de “faz de conta”, em que a renda importa, desde que não se faça nada.

Enquanto assim for, estaremos seguindo a linha nefastamente poderosa de um homem como o doutor Sarney que não se peja de vergonha de ser mais um a nos dar um dos tantos e esquecidos maus exemplos que esta Nação e este Povo está cansado de assistir.

Cansado? Não é bem assim. Nâo se presta é atenção a estes acontecimentos.

Já esquecemos ou não o mensalão dos apaniguados do Sr. Lula da Silva; os dolares na cueca; as falcatruas iniciadas com aquele recebedor de propinas, exercente de cargo público na Empresa de Correios e Telégrafos; os delúbios e tantos outros notívagos do crime e da mutreta na calada da noite?

Esquecemos, ou não esquecemos? Com certeza esquecemos, pois somos um Povo que como gado vai para o abatedouro, sem reclamar.

Essa baixeza de comportamento atestada por documentos que chegaram ao conhecimento da Nação, fartos, sobejos na pura verdade, afrontam sobremaneira a Constituição Federal.

A nossa ira parece grande diante desses ditos secretos do Senado Federal, mas é só um susto que o povo brasileiro toma de repente, mas que logo é esquecido e passa, tudo isso porque somos surdos, mudos, negligentes e desidiosos no exigir respeito para com essa trêmula e amarelada Nação.

O Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado, diz ainda:

“Então, é com essa responsabilidade que nunca tive meu nome associado a qualquer das coisas que são faladas aqui dentro do Congresso Nacional, ao longo do tempo, porque isso é uma crise mundial. O que se fala aqui no Brasil sobre o Congresso fala-se na Espanha, fala-se na Inglaterra, fala-se na Argentina, fala-se em todos os lugares”.

O Senhor Presidente do Senado neste trecho de sua fala, inobserva que a denúncia feita pela imprensa retrata e enfoca os seus parentes, logo o Senador é a essência desse enfoque no enlameado nepotismo que praticou.

Quando se tem na gíria “costas largas”, o indivíduo usa o favor e não os seus méritos pessoais, assim a denúncia que a imprensa traz à baila quanto a este ultrajante ato, com o qual se abre espaço para a riqueza irregular, fere de morte um homem que de per si deveria ser o exemplo casto da lisura pública frente a uma das maiores instituições deste País, ora conspurcada e inebriada da mais fétida lama.

Ainda assim o seu discurso sobrou na empáfia acelerada de quem pede “respeito” para fatos que não se pode dar respeito, como se essas brincadeiras excêntricas pudessem ser escondidas mesmo sendo o Senador conhecedor por experiência, de que atos desse naipe deveriam ser legais e publicizados na forma da lei.

Pode se dizer que o seu ato foi ditatorial, certeza de quem sabe que pode abusar do descumprimento da lei, baseando-se no seu poder irregular de gestão a permitir-lhe a prática desrespeitosa de uma ação danosa contra o País.

De todo modo daqui mais uma, duas ou três semanas não se ouvirão os arautos desse crime lesa pátria. O assunto tornará letárgico de momento, para em outro assunto de tal gravidade, coçar levemente os brios fracos dessa gente brasileira, que de coceira em coceira desperta para depois dormir.

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