Itamaury Telles *
Tristes Montes Claros que contemplam impassíveis a destruição do seu patrimônio arquitetônico por um punhado de moedas...
Novamente, ouvimos o vil metal tilintar mais sonoro que as pífias vozes destoadas de uma população saudosista que, impotente, assiste à
destruição do patrimônio histórico da cidade. No caso, o prédio que abrigou por algumas décadas o ginásio diocesano, na Avenida Cel. Prates.
Estou tão indignado quanto Caetano Veloso, em Sampa, com o poder “da grana que ergue e destrói coisas belas...”
É triste, porque outros prédios, igualmente importantes, já desapareceram do cenário urbano, muitas vezes para dar fluxo mais célere ao automóvel, este conjunto de engrenagens que tem mais importância que os bípedes implumes roedores de pequi...Foi assim que ocorreu quando botarão ao chão os adobes da Igreja do Rosário...
Ah, se eu tivesse as 30 moedas suficientes para abortar algumas traições à memória popular!
Mas, também não as tive, para evitar a destruição da boate da Praça de Esportes, nem daquele chalezinho suíço da rua Camilo Prates, varrido da noite para o dia para dar lugar a um estacionamento de veículos. Também não as tive sequer para evitar a derrubada das centenárias paredes do velho mercado, nem para salvar a casa de Dona Eva, ou aquele belo casarão da Praça Dr. Chaves, onde foi criado o Jornal do Norte.
Também me faltaram recursos para evitar fosse demolido o vetusto prédio de O Jornal de Montes Claros, ali na rua Dr. Santos, 103, onde, aos 16 anos, eu começava a minha carreira de jornalista. Ali mesmo que abrigara o folclórico Tuia, a laboriosa Maria de Tia Rosa, o gráfico Tião Camurça, o linotipista Andrezzo e a impressora que pertencera ao jornal do Rui Barbosa.
Bem que tentei sensibilizar algumas lideranças para que se evitasse a derrubada do prédio do antigo ginásio diocesano. Mas me disseram que não era prédio histórico. Tinha menos de 70 anos! Não compensaria usar tal argumento.
