O transporte ferroviário

Jornal O Norte
Publicado em 26/01/2010 às 10:14.Atualizado em 15/11/2021 às 06:18.

Dirceu Cardoso Gonçalves


Dirigente da Aspomil


aspomilpm@terra.com.br



Passados quase 14 anos do seu arrendamento a empresas privadas, as ferrovias brasileiras - um patrimônio constituído com o dinheiro do contribuinte – está subutilizado. Dos 28,9 mil quilômetros de linhas existentes, apenas 3 mil são usados plenamente. Em contrapartida, as rodovias estão superlotadas por caminhões carregando as cargas que deveriam estar nos trens, nas embarcações fluviais e até nos aviões. A estrada de ferro foi implantada no Brasil através dos fazendeiros que precisavam escoar sua safra de café (o principal produto brasileiro de então), e pelo governo. Com o passar dos anos, aquelas que eram privadas foram encampadas pelo governo e todas passaram a ser estatais.



Ficaram suscetíveis a todos os desmandos, interferências e instabilidades políticas vividas pelo país. Também se tornaram palco ideal para a luta ideológica de classes, que produziu greves mais políticas que reivindicatórias e abrigou, inclusive, os movimentos da chamada Guerra Fria. Desde os anos 50, quando a indústria automobilística se desenvolveu, inexplicavelmente, pouco se fez pela manutenção e modernização das ferrovias. Há quem diga que isso foi proposital. O resultado disso é que, por falta de competitividade, o trem perdeu passageiros para o ônibus e carga para o caminhão.



Nos anos 90, dentro da onda burra de privatizar, por privatizar, o governo arrendou as ferrovias para empresas particulares, mas, com raras exceções, estas, com interesses apenas imediatos, não cumpriram suas metas e abandonaram estações, linhas e um imenso patrimônio imobiliário, hoje sucateado. Ao mesmo tempo aumentaram as estradas, onde proliferam os pedágios e, em conseqüência, o trânsito rodoviário é oneroso e cada dia mais caótico.



Agora, fala-se em rever os arrendamentos e buscar condições para que as linhas voltem a ser utilizadas de forma empresarial, racional e competitiva. É um dever que os omissos órgãos estatais de controle deixaram de cumprir ao logo dessa quase década e meia de arrendamento. Hoje é mais difícil, porém necessário, recolocar tudo em boas condições, pois além do desgaste do uso, ainda há a conseqüência do abandono e da depredação. Mas não é impossível. Fica mais barato do que construir uma ferrovia nova. Responsável pelo desbravamento de regiões e o surgimento de muitas cidades, ao final do Século IXX e XX, a ferrovia não deve ter se transformado em algo inviável da noite para o dia. É preciso que governo, sociedade e operadores decidam o que dela pretendem fazer.



Apesar de contar com grandes polos de desenvolvimento e economia pujante, o Brasil ainda tem muito o que concretizar. Recuperar a ferrovia e fazê-la voltar a produzir, é medida de interesse geral. Mas isso há de ser feito em consonância com os outros meios de transporte – rodovia, hidrovia e aerovia – para que cada qual cumpra a sua vocação e a sociedade seja a grande beneficiada. A intermodalidade é a solução ideal, já provaram os países mais desenvolvidos do mundo. Uma coisa é certa. Do jeito que está, a ferrovia não pode continuar. E a solução tem de ser inteligente e... urgente.

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