Marcelo Valmor


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“Oh, bendito o que semeia livros,


Livros à mão cheia e manda o povo pensar


O livro caindo n’alma é germe que faz a palma


É chuva que faz o mar”


(Castro Alves)

O ensino superior no norte de Minas ainda está em processo de consolidação. Professores percorrem o estado e outros membros federados para concluírem mestrados e doutorados, enquanto outros, já com essa titulação, vasculham toda a região atrás daqueles que ainda não foram atingidos pelo mundo das letras e das ciências. Do campus da Unimontes, em Montes Claros, partem, diariamente, carros e mais carros abarrotados de mestres em direção a diversas cidades como São Francisco, Pirapora, Januária, Brasília de Minas, e vai por aí afora.

Essa é a nossa vocação. E esse também é o nosso destino. Inquietos, e tal como desbravadores, levamos parcelas de reflexões e cálculos na esperança, constante, de tal qual no mito de Platão lançarmos luzes sobre um mundo de sombras. Não que pretendamos esclarecer os “incultos”, mas com a generosidade de estabelecermos um contato maior com as populações ribeirinhas, com o homem simples do sertão que anseia por conhecer um mundo diferente. E, porque não, de “darmos” a ele um instrumento capaz de fazer com que Deus o reconheça quando chegar ao céu. Como diria o poeta baiano Castro Alves, “quando ante Deus vos mostrardes tereis um livro na mão”.

Mas todo esse movimento, que poe para girar a eterna roda do conhecimento, não seria possível sem a presença dos desbravadores iniciais. Aqueles e aquelas que percorreram primeiro as estradas para fundar, em terras áridas, um sentimento de humanidade. Isso, porque alguém que se preocupa em “educar” exerce, antes de mais nada, aquilo que chamamos de solidariedade. E solidariedade para nós se compõe de duas pontas. Afinal, ao ensinar, aprendemos ao mesmo tempo. Estou falando, nesse espaço, de Sônia Quadro Lopes, de Isabel Rebelo de Paula, das irmãs Baby e Mary Figueiredo, de Florinda Ramos Marques e Dalva Santiago de Paula.

Quando o asfalto ainda não existia e tudo era terra; quando ainda não cabia na cabeça dos homens discussões que não fossem para além do preço do gado no mercado, essas senhoras partiram para diversos cursos na capital mineira. Da pedagogia à história, da filosofia à letras, chegaram animadas para cravar, nessa terra ainda inóspita, uma semente do conhecimento. A Fundação Educacional Luiz de Paula abriu seus braços para esse sonho, e o Colégio Imaculada sua primeira morada. Estava criada, ali, a Fundação do Ensino Superior do Norte de Minas-FUNM

O mestre Wanderlino Arruda na sua bela crônica - FAFIL – A primeira faculdade - recupera, testemunha ocular que foi de todo esse processo, toda a grandeza do ato dessas senhoras, e a professora Cibele Milo, assim como a Unimontes, através do reitor Paulo César Gonçalves de Almeida, lhes fizeram cânticos de reconhecimento e louvaram sua iniciativa, pois afinal somos, todos nós, filhos desse sonho.

Por isso que presente e passado se aproximam quando, tal qual essas pioneiras, saímos do nosso conforto para espalhar esse sonho em outras plagas. Quando, contaminados por esse espírito empreendedor tão típico do povo sertanejo, retribuímos a outras populações aquilo que foi feito por nós.

Nesse mês de abril, quando se completa um mês de falecimento da professora Sônia Quadro Prates, uma justa lembrança daqueles que são muito gratos a essa iniciativa, e no meu caso específico, assim como de todo o departamento de história da Unimontes, uma lembrança especial àquela que sonhou o nosso sonho. A professora Sônia foi diretora da FAFIL, pertenceu ao quadro de docentes do curso de história, e nesse momento, num aproximar de tempo presente e passado, prestamos, a ela, o nosso mais sincero reconhecimento.