O sertão em mim - por Eugênio Magno

Jornal O Norte
Publicado em 19/10/2007 às 11:09.Atualizado em 15/11/2021 às 08:20.

Eugênio Magno *



Cada vez que visito Montes Claros sinto-me como se recebesse uma carga completa em minhas baterias. E por aí estive na semana do feriado do dia 12, participando, também com os meus versos, do 21º Salão Nacional de Poesia Psiu Poético que este ano foi batizado de MONTESCLAROScidadeIMAGINÁRIA. Todos os anos são escolhidos alguns poetas que estejam produzindo poesia para serem homenageados. Na edição de 2007, os organizadores do Psiu resolveram homenagear as mulheres poetas que estão se destacando na poesia brasileira contemporânea. Alice Ruiz, Amneres, Diana de Holanda, Leila Mícolis, Olívia Ikeda, Thaise Diaz e Virna Teixeira foram as homenageadas desse ano.



Foi uma honra para mim mostrar e falar das riquezas de minha terra a poeta e tradutora homenageada Virna Teixeira, ao jornalista e também poeta Alécio Cunha e a cantora, instrumentista e poeta paulista Neusa Pinheiro. Levar essa turma ao mercado municipal era uma obrigação. Eles adoraram o passeio. Tocaram e provaram muitas iguarias. Voltaram para as suas casas de matulas cheias: doce de buriti, requeijão, óleo de pequi, brinquedos, artesanatos e muitos outros encantamentos. Senti-me orgulhoso em receber na cidade, o poeta português, Fernando Aguiar, grande ícone da poesia contemporânea mundial, que participa pela segunda vez do evento. Com ele permutei livros, impressões e apreços. Fernando já homenageou Montes Claros em uma instalação poética que teve intinerância por várias cidades do mundo.



Montes Claros é assim, desperta o fascínio em todos que por aí passam, e não é à toa que me ufano dessa nascente do meu ser que escorre por onde ando. Esse lugar que deixei de residir há vinte e seis anos continua sendo alimento para a minha alma e de sua terra brotam as comidas e as bebidas preferidas ao meu paladar. Tenho necessidade de, pelo menos duas ou três vezes ao ano, receber o alimento que só aí encontro e que me dá força para prosseguir, antenado para o mundo, mas com as raízes cada vez mais bem fincadas nesse nosso solo agreste.



Nessa viagem de poesia, encontros e reencontros, revi velhos amigos: Zeca de dona Linda, Dóris, Tacão, Artur Leite, Fatinha, Gilberto, Santoro, Thaise, Ismoro, Patrícia, Josecé, Charles Boa Vista e, claro, Aroldo Pereira, o grande mestre de cerimônias e idealizador do Psiu, seu colaborador, o poeta do dedo verde, Guilherme e o secretário de cultura, João Rodrigues. Fiz novos amigos e troquei livros e versos com poetas de vários cantos do país como Sol Ramalho, Maria Iede, Ex Kosta K, Leila Mícolis, Deomídio Macedo e Karen Debértolis, entre muitos outros. Encontrei também poetas residentes em BH como Ronaldo Zenha, Rogério Salgado e a sua inseparável e simpática companheira, Virgilene Araújo. Vi o meu povo, irmãos, cunhados(as), e sobrinhos, e revisitei lugares, ruas e bares.



Tem muita gente me querendo de volta em Moc, mas tenho os meus pés em duas canoas. Também sou belo-horizontino de coração e uma outra parte da minha vida está aqui. E já que estou poetando, devo confessar que a melhor forma que encontrei de falar disso foi através da poética. A minha mineiridade já foi traduzida no poema MINAS É +, Prêmio BDMG–Cultural de Literatura: Poesia, 2005, que está no livro MINAS EM MIM. Ele é assim: Por quê? / minas em mim se nem / tão das minas sou / assim / Minas é M m + / eu sou gerais / minas me tem dentro de si / eu sertão em mim.



Ei, psiu, a poesia chama.



* Comunicólogo, mestre em artes e poeta

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